Pra encerrar...


É, esta bagaça está às moscas, como sempre acontece com todos os meus blogs. Pelo menos este tem um bom motivo: a falta de tempo e até mesmo prática. Escrita é prática, e a minha prática tem se limitado àquele tipo de escrita que obedece às normas da ABNT. E, acreditem, essa não tem poesia nenhuma e bem pouco humor.

Mas de vez em quando eu consigo dar uma fugida pra reclamar de algo, ou me deparo com algum texto que mexe fundo comigo e venho postar aqui, pra deixar registrado, pra eu lembrar depois. Tenho (sempre tive) a sensação de que há mundos paralelos, onde pessoas que nunca vi na vida escrevem exatamente aquilo que aconteceu na minha vida, ou que estou sentido. Deve ter algo a ver com o Inconsciente Coletivo de Jung. Ou não. Tô tentando procurar menos explicações pras coisas. Tentando tentar entender menos (e isso é muito difícil pra mim).

Então, pra encerrar 2011 (e não o blog - ainda não), um texto da Milena, do Samba de Gringo. Mais um. Mas esse realmente...

Dei uma editada no texto - ele é escrito com um eu lírico masculino (desculpa, moça!). O original você encontra no link acima.

Eu resolvi te deixar ir. A mágoa já passou, as feridas estão cicatrizando levemente de fora pra dentro, porque dentro ainda me doem. Não posso colocar toda a culpa de um amor impossível em você. Não posso esperar que seja tão emoção quanto eu, que tenha menos razão nesse jogo sem fim onde a razão é a única coisa que faz sentido. Você nunca quis me machucar e eu sei disso. E sei também do tanto que me amou, não precisa dizer com os lábios o que teus olhos me disseram um dia. Hoje eu consigo olhar para trás e ver o quanto você procurou o meu bem, e se um dia me fez algum mal, foi apenas por ter se envolvido mais do que podia.
Não dava mais para insistir, eu sei. Por maior que seja o amor, nem sempre é possível tocá-lo. Por isso estou aqui hoje, na beira norte do rio, curvando meu corpo sobre a ilhazinha onde a gente se escondeu por tantos dias. Revivendo de novo os cheiros e sons que me lembram o gosto da tua pele, o calor do teu beijo em mim. Me perguntando se um dia a vida cruzará nossos caminhos mais uma vez.
Fiz um barquinho de papel pra você. Ele é você. E quando eu te soltar por esse rio, quero que navegue tranquilo. Embrulhei nele todo o amor que senti por você um dia – e ainda sinto - pra que de algum jeito, quando sentir que a vida te machuca um pouco, possa lembrar-te do quanto alguém te amou um dia. Não guardo mágoa nenhuma, menino. Só te quero bem e feliz. E também quero ficar bem e feliz. Você disse que tudo isso era melhor pra todo mundo e hoje eu entendo o quanto isso foi importante para mim. Cara, como eu te amei. Como eu pensei em você por cada dia desses três anos e meio, mesmo quando nos separamos daquela outra vez.
Eu sinto tanta falta tua. Sinto falta desse monte de coisa bonita que vinha com esse “nós” improvável. Do nosso amor, da nossa história, de você me dizendo que não queria parar. E hoje, olha pra gente. Você me pedindo para desistir e eu desistindo. Você me pedindo para esquecer tudo e eu esquecendo.

Vai barquinho. Leva contigo todo esse amor absurdo e impossível que tenho por ti. Segue teu rumo, encontra o que procura. Seja feliz, muito feliz, ainda que não seja eu o motivo da tua felicidade. Tente lembrar-se de mim de vez em quando e de todas as horas lindas que dividimos. Tenta me esquecer devagar. E aprenda a seguir teu coração nesse meio tempo de vida em que estivermos separados.
Se nos veremos novamente? Não sei. Não sei ao menos se nos falaremos mais alguma vez. Mas as portas estão abertas, você sabe e sempre soube. As portas estão sempre abertas pra você. Te cuida bem, tá? Quem sabe um dia a gente senta numa mesa de bar, sem medos e sem corações, e bebe um amor impossível.
Deixei de tentar entender, estou apenas entregando meu amor por você, um barquinho, ao mundo. Que a vida cuide das nossas estradas, do nosso futuro. Que você consiga se encontrar na tua estrada e eu na minha. Que nós dois sejamos apenas amor, sem ressentimentos. Sem drama. Sem mágoa.

Vai, barquinho, vai, segue tua correnteza. Eu sigo meu caminho de volta com todo um nó na garganta e a esperança de que o tempo cura todos os corações. E se um dia nossos caminhos se cruzarem de novo, a vida se encarregará de encaixar as peças. O que tiver que voltar, volta um dia, mas não nos preocupemos com isso agora. Vai, barquinho. Apenas vá. Eu vou também. Te cuida. Te amo imensamente.

Vai, 2011, e leva com você o meu amor impossível. Venha, 2012, e me traga novas pessoas, novos amores, novos amigos, novas histórias.

Relacionamentos pós-modernos



Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que eu não dei procuração a ninguém pra queimar sutiã em meu nome, muito menos pra defender essa zona de comportamento entre os gêneros que se apresenta por aí. Essa bagunça a que muitos chamam de "liberdade", onde a experimentação de tudo é acessível a todos, só torna o mundo um lugar MUITO confuso. Pelo menos pra mim. Eu já sei há alguns anos - e cada vez tenho mais certeza - que homem não sabe terminar relacionamento. Mas não saber começar é novidade.

Ok, eu já fui bem feminista. Do tipo quase estereotipado. Homens e mulheres eram iguais, tinham direitos e deveres iguais e podiam fazer as mesmíssimas coisas. Eu gostava de carregar peso só pra provar que eu PODIA. Eu brigava com meus amiguinhos homens durante a adolescência pra provar que eu PODIA ser tão forte quanto eles - o que a fisiologia obviamente discordava, mas eu nunca dei o braço a torcer, mesmo saindo com ele (o braço) roxo. Mas, sabe? Cansei. Tédio total. Pra que isso? Quer carregar a bolsa pra mim porque acha que tá muito pesada? Carregue. Quer se achar mais forte que eu? Ache-se, provavelmente é mesmo, ainda que eu tenha uma força considerável, ela vai ser menor do que a da maioria dos homens. E eu durmo muito bem mesmo sabendo disso.

Mas em matéria de relacionamentos a coisa tá confusa num nível que eu não consigo alcançar. Tipo, sempre houve protocolos de conquista desde que o mundo é mundo. Até entre os animais - os outros, os chamados "irracionais" (rá) - é assim. Não questiono isso. Sou uma pessoa muito cheia de protocolos. Acho bacana, acho coerente, acho que torna as coisas mais simples e claras, cada um no seu quadrado. Mas eu não tô mais entendendo como a coisa se processa hoje em dia.

Quer dizer, antigamente os homens chegavam nas mulheres. Eles davam em cima, eles cortejavam, e cabia a nós jogar um certo charme pra chamar a atenção de quem nos interessava ou cortar os que não interessavam. Tudo era muito claro. Os machos faziam gracinhas pra chamar a atenção das fêmeas - alá os bichos dando exemplo de novo. E funciona com eles, e durante milênios funcionou com a gente. Maaas, insatisfeito como é o ser humano, alguém resolveu que não tava bom assim, e pronto. Agora é essa zona que presenciamos. As mulheres vão à caça - gostaria de ressaltar que não faço parte da Família Dinossauro e não me apraz caçar minha comida, prefiro sentar calmamente num bom restaurante e esperar ser servida.

É sério, a falta de atitude dos homens já há algum tempo tem me exasperado. Eu costumo brincar que os homens têm medo de mim - mas é só brincadeira, porque reluto em aceitar que chegamos ao ponto de um HOMEM ter medo de uma MULHER. Eu não mordo - exceto em contextos especiais -, não tenho nenhuma anomalia aparente (as questões de personalidade não contam, né?), as pessoas me acham bonita e eu tenho certo grau de inteligência. Não acredito que o fato de gostar de futebol, UFC e abominar rosa e comédias românticas me torna alguém temível - não deveria ser o contrário, já que eu tenho mais gostos em comum com os homens em geral do que as menininhas fresquinhas? Quando eu era adolescente e BATIA nos meninos, eles não tinham medo de mim! Porque os homens de hoje, nos quais NÃO bato, teriam? Não faz sentido, né? Pois é, eu também acho.

Mas os caras não têm reação. Impressionante. Eu fico pensando nos dois últimos com quem me envolvi. A iniciativa do primeiro beijo teve que ser minha, porque se dependesse deles ficaríamos uma vida olhando um pra cara do outro - isso porque o último tinha até bastante atitude, mas de vez em quando aparentemente travava na minha frente (travar é o termo, sempre travou, incrível. Quer dizer, guardados os devidos contextos, né, há situações e situações). Cara, que inferno! Mermão, acabou o assunto, ficou um olhando pro outro? Não tem o que pensar, chuta pro gol e corre pro abraço. A garota não vai meter a mão na sua cara se você beijá-la - provavelmente o faria se você cruzasse com ela na rua e a agarrasse. Bem, pelo menos eu faria, nessas circunstâncias. Mas não, já houve um papo, já se conhecem, já houve insinuações nas entrelinhas, brincadeirinhas, ela já riu daquela sua piada sem graça, CACETE, tá esperando mais o que? Mas não. A pessoa fica lá, dãããã. Ou então demonstra algum interesse e corre. Aí você desiste. Aí vem e cutuca mais um pouco, "oi, eu tô aqui, olha pra mim". Aí corre. APA, viu.

Por exemplo. Você fica de marcar um encontro com um grupo de amigos. Um deles - que te desperta algum nível de interesse - de repente começa a te perguntar "e aí, quando vai rolar?". Começa a te ligar pra falar sobre coisas de trabalho. Pergunta coisas que você JÁ disse. Puxa assunto do nada em algum messenger da vida. Aí cobra de novo o tal do encontro. QUÉDIZÊ, você pensa "nesse angu pode ter caroço", né? Vamos investir. Aí você marca o tal do encontro, por causa de imprevistos o povo dá pra trás em cima da hora, mas você se mostra disponível - pô, vamos tomar uma (coca cola, no meu caso, já que não bebo cerveja), o que que tem demais nisso? Trocar ideias, conversar, espairecer. Aí a pessoa te diz "É, melhor deixar pra semana que vem então". Oi? Qual o problema? Eu fico pensando se eu tenho um papo tão imbecil assim ou se a pessoa tem medo de ficar sozinha comigo (num lugar público, oi?), porque né, realmente não me passa nada pela cabeça muito coerente além disso. Não tá a fim? Não dá corda. Tá a fim? Então não paga de mocinha envergonhada, porra.

Ai que saudade dos homens que tinham atitude de homem. Daqueles que chamavam pra sair - mesmo que você não quisesse, era só dizer "pô, não dá", eles já entendiam a mensagem e a amizade continuava. Mas agora não. É um tal joguinho de mostrar interesse, não mostrar interesse, vai não vai, quer não quer que me irrita profundamente. Eu sou antiquada. Velha. Quadrada. Gosto de ser cortejada. Gosto que o homem tome a iniciativa. Não sou uma mulher pós-moderna e bem resolvida (no sentido pós-moderno da coisa), que vai em cima do homem que lhe interessa. Não. Eu gosto de gentilezas, gosto de sutilezas, de homens com atitude, que mostram a que vieram. Principalmente: que SABEM o que quer - ô coisa rara hoje em dia. Cada vez mais perco a paciência com essa mistura de comportamento, onde não há mais papeis claros a serem desempenhados. Não falo essa língua não, na boa.

O problema provavelmente deve ser comigo. Eu que atraio homem banana, é a única explicação racional que consigo conceber. Meu histórico demonstra isso, o último cara com quem me envolvi e que tinha atitude de começar e terminar alguma coisa foi aos 18 anos, ou seja...

Rapidinha

Não, esta bagaça não tá abandonada, embora pareça. É verdade, eu tenho andado mais pelo Facebook e pelo Twitter do que por aqui - a facilidade das redes sociais. Pra escrever num blog, é preciso ter assunto e tempo pra desenvolver as ideias. Assunto a gente inventa, agora, tempo pra desenvolvê-lo... Aí pega. Por isso eu tenho me rendido à rapidez estéril do Twitter e do Facebook. Eu tenho uma dissertação pra escrever, um relatório pra preencher pra CAPES e produção pra apresentar, ou seja... No way. Sem condições de escrever mais do que algumas linhas de bobagens soltas por aí.

Maaaaas, pra não deixar esta coisa às moscas, às vezes eu separo um tempinho pra rabiscar algumas reclamações ou, como neste caso, pra trazer algo que li em outro lugar. Mas - putz grila - tinha que ser tão meu? Tinha que ser tão eu?

Então vá, se quiser ir. Te dou mais uma chance para me esquecer, se apaixonar por alguém, se reapaixonar, quem sabe. Também tentarei fazer o mesmo, é hora de tocar a minha vida sem você. Quem fica, fica por vontade própria.
Te dou um tempo sem mim, me dou um tempo (doído) sem você. E quem sabe um dia você descubra se tudo isso te significou alguma coisa, se foi de verdade. A diferença entre a gente é que sei que ainda me lembrarei de ti em dez anos e talvez você esqueça meu nome. Porque não sei exatamente se pra você fui amor ou fogo de palha.
Então vá, não vou pedir pra ficar, não vou mais desejar que me peça para ficar. Não farei mais perguntas, engolirei um silêncio seco, feito bola de pelo na garganta. Porque é melhor assim, não é mesmo? Não.
Talvez você tenha razão, talvez eu tenha inventado um amor que só existiu dentro de mim. Talvez um dia eu olhe para trás e perceba o quão infantil eu fui, logo eu, sempre tão madura emocionalmente.
E eu te desejo algumas coisas. Que seja feliz, de verdade. Que um dia encontre alguém que consiga amar e que não te machuquem. Desejo coisas do passado também, como por exemplo, ter sido capaz de acelerar teu coração, de te dar nós na garganta, de te fazer sorrir sozinho antes de dormir. Desejo ter frequentado alguns sonhos seus e atormentado alguns pensamentos.
E desejo, acima de tudo, que se um dia quiser voltar, que venha de coração aberto. Que nunca esqueça o quanto te gosto. Que não tenha medo de me mandar uma mensagem no meio da noite dizendo que sente saudade, se sentir. Que não tenha receio de me bagunçar outra vez, se perceber que é de verdade. Você conhece meus caminhos, então venha, se quiser. E permita se perder em mim.
Eu já entendi teu silêncio, então pode ir tranquilo. Fica bem, eu também vou ficar, cedo ou tarde. E se ainda for importante para você, não me deixa te esquecer; se passar muito tempo, posso ter endurecido demais. Se nossos caminhos ainda estiverem cruzados, te vejo em breve, quem sabe. Se não, se cuida e me esqueça aos pouquinhos.

E se permita amar um pouco mais.


*E a música tema deste post, pra mim, seria "A Sua", da Marisa Monte. A maldita música que me faz chorar desde 2002, e que, sei lá porque cargas d'água, ultimamente várias pessoas resolveram relembrar no Facebook. Só pra me atormentar. Quando eu digo que tem alguém lá do outro lado (em cima ou embaixo, anyway) que adora curtir uma com a minha cara...

Religare?



Então, acaba sendo meio inevitável eu retornar ao tema religião, porque no fim das contas é o que eu estudo, e acho que é a área onde tenho opiniões mais polêmicas – e, pra alguns, contraditórias.

Eu acho que se os religiosos em geral lessem um pouco sobre a construção da verdade segundo Foucault muita aporrinhação seria evitada – ou pelo menos diminuída. Vamos lá, meu povo, verdades são construídas segundo relações de poder. Nem vou enveredar por aí porque não sou grande especialista no careca, mas basta dizer que, resumidamente, você aceita para si a verdade que lhe convém. Se lhe convém acatar tudo que o pastor/padre/rabino/pai de santo/xamã diz, essa vai ser a sua verdade; se lhe convém acreditar na Grande Abóbora, essa vai ser a SUA verdade. O problema é quando você cisma que essa verdade tem que ser a dos outros também. E, pior, quando cisma que a SUA verdade, da forma como VOCÊ a concebe, é a única. Veja bem, mesmo dentro de uma mesma igreja pode haver mais de uma forma de entender a doutrina. Então quem garante que você tá certo?

Eu sempre impliquei com a ideia de evangelização. Desculpa, mas é verdade. Já disse aqui algumas vezes que sou metodista porque admiro profundamente as ideias de John Wesley, mas que minhas opiniões não representam de forma alguma os princípios da Igreja Metodista – mas não custa lembrar. Eu leio, ouço, reflito, passo em vários filtros, e daí retenho o que me parece mais coerente e descarto o resto. Ou seja: minhas opiniões representam única e exclusivamente os MEUS pensamentos. Não me venham imputar cargas que eu não me comprometi a carregar. Não sou pastora, nem assessora de imprensa ou porta-voz pra falar pela instituição. Mas voltando ao lance da evangelização; sorry, irmãos, mas eu não concordo muito com a ideia de evangelização não. Acho que as ideias de Jesus (coloca aspas aí – não há registro de que Ele tenha deixado algo escrito, aliás, na verdade, muito provavelmente Ele era analfabeto) não são pra CONVENCER ninguém. Cantar em trem ou ônibus, entregar papelzinho na rua ou bater na porta das pessoas domingo de manhã, estatisticamente falando, mais queima o filme dos evangélicos do que dá algum retorno do tipo que vocês esperam. Sério mesmo. Conheço muita gente traumatizada, que desenvolveu verdadeiro preconceito com religiosos. E não me venham com aquela ideia de “religioso vazio” e talz, vocês sabem do que estou falando.

Eu poderia discorrer por horas sobre o assunto (mentira, não poderia porque vou sair daqui a pouco e provavelmente nem vou terminar este texto agora), mas basta me ater a alguns pontos importantes, que, aparentemente, são ignorados pela maioria.

Primeiro: a Reforma não rompeu com aquela ideia de intermediário entre Deus e os homens? Depois da Reforma o papel dos padres – ou, no caso, dos pastores – não passou a ser de simples condutores (daí, inclusive, o nome) , ao invés de porta-voz de Deus? Todo mundo não tem acesso à Bíblia? Então porque diabos (ops) vocês cismam que alguém para estar “salvo” precisa estar enfiado numa igreja? A Bíblia não diz isso em lugar nenhum, se bem me lembro. Na boa, certas pessoas que conheci dentro de um templo desvirtuariam o próprio Jó facilmente (ele, também, uma construção, diga-se de passagem). Eu não preciso ouvir o pastor para ter comunhão com Deus. Precisaria dele caso tivesse alguma dúvida doutrinária ou precisasse de aconselhamento (ou poderia pagar um psicólogo, wathever). Eu gosto de ouvir pregações, quando o cara sabe do que tá falando. Eu acredito piamente que Deus pode (veja bem, PODE, não que sempre o faça) falar através de um pastor, durante uma pregação. De verdade. Agora, se começar a me ameaçar com o inferno por não concordar com coisas que ele INTERPRETOU aí vai começar a me lembrar muito os padres pré-Reforma e meu Lutero vai querer pregar papeis nas portas das igrejas. Melhor evitar, vai por mim.

Segundo: a Bíblia tem três aspectos, e pelo menos dois deles são em geral ignorados: ela é um texto sagrado (eu ia colocar uma definição aqui, mas né, isto não é um artigo); ela é uma obra literária; e ela é um documento histórico. Antes que me taquem pedras, vamos pensar (fazer isso de vez em quando faz bem e não dói, acreditem). O status de livro sagrado é inquestionável, pelo menos para os seguidores das diversas linhas de cristianismo existentes por aí, então nem vou me alongar nisso. Ela é uma obra literária porque é composta de diversos gêneros literários diferentes, compilados em diversas épocas, em comunidades diferentes (surpresa! A Bíblia não caiu do céu pronta, ela foi construída). E, talvez o mais chocante para teístas e ateístas, ela é um documento histórico sim – na medida em que representa a mentalidade da época (ou das diversas épocas) em que foi escrita, e contém eventos com alguma plausibilidade histórica (esqueçam essa ideia de “prova histórica”, mesmo fatos podem ser montados). Pensando nesses três aspectos, sem ignorar os que nos convêm, podemos chegar aos seguintes raciocínios: 1 – A Bíblia contém erros sim. Contradições às vezes muito claras. Pedaços de texto soltos e fora de ordem. Podem me chamar de herege, mas qualquer leitor atento percebe isso. É impossível uma obra humana, por mais inspirada que seja, sem erros. 2 – A Bíblia não deve ser entendida de forma literal, até porque os eventos que ela narra – mesmo os que contêm alguma parcela de plausibilidade histórica – em sua grande maioria foram escritos anos, décadas, às vezes séculos depois de terem ocorrido. E mesmo com a cognição peculiar da cultura oral, diferente da nossa, ninguém tem memória de elefante. 3 – A Bíblia é repleta de pegadinhas do tipo “parece mas não é”. Marcos não escreveu o Evangelho de Marcos. Mateus não escreveu o Evangelho de Mateus. Lucas... Bem, a ideia é a mesma. Na antiguidade era usual atribuir um texto a algum nome importante para dar a ele, o texto, autoridade. Não à toa várias cartas paulinas são contraditórias; além de interpolações posteriores, algumas simplesmente foram escritas por outras pessoas, muitas décadas depois da morte de Paulo. Aí nós vemos mulheres na liderança das comunidades, ensinando e pregando em algumas passagens, e em outra sendo avisadas para “manter silêncio”. Como eu não acredito que Paulo tenha sido esquizofrênico, nem sofresse de dupla personalidade, é bem provável que tenha havido acréscimo de copistas nisso aí.

Enfim, como eu disse a discussão é longa, e eu poderia discorrer sobre ela durante bastante tempo. Eu continuo tendo minha fé, mas realmente é impossível dissociá-la do raciocínio lógico, da razão, e dos questionamentos. Afinal foi o próprio Wesley que disse: “Nós temos o princípio fundamental de que o renunciar à razão é renunciar à religião, que a religião e a razão caminham de mãos dadas e que toda religião sem a razão é falsa.” A diferença é que eu não tenho a menor necessidade de convencer os outros de que a minha verdade é a única – até porque eu sei que não é. Tenho consciência da minha pequenez e das minhas limitações pra chegar a esse nível de megalomania. Acredito num Deus soberano – logo, Ele não precisa de mim, seja como advogada, seja como assessora de imprensa e muito menos como porta-voz. E, se você não acredita que Ele exista, se Ele quiser, Ele te convence do contrário. Com uma palavra dita por mim ou lida num outdoor. Se Ele não quis até agora... Quem sou eu pra tentar forçar?

Escrevi este texto já há uns dias, mas não tive tempo de postá-lo antes. Então, se eu não for queimada por heresia, qualquer dia desses eu volto.

Dos outros (mas que bem poderia ser de mim)



A verdade

- Mas o que você espera de mim?

- (Que você pare de varrer todo esse seu amor pra debaixo do tapete, tentando convencer a si mesmo de que não vale a pena lutar por algo que te toque fundo demais. Que você aprenda a ouvir seu coração, ao menos uma vez na vida, e decida em nome dele ao invés de ouvir todo esse seu medo. Que você não tenha receio de mergulhar em uma história bonita só porque não existe um futuro perfeito neste momento. Não existe futuro pra nada, não há garantia pra amor nenhum. Espero de você um pouco de honestidade com você mesmo, que me fale duzentas vezes o que me dizem seus olhos e as letras das músicas que você me manda, se escondendo atrás desse monstro que você não sabe lidar. Espero que segure firme meu rosto e me beije no meio da rua, na frente de todo mundo. Que dance na chuva comigo. Que me beije o rosto e as mãos, sem se arrepender de mostrar amor. Que me olhe deitado na cama ao meu lado e emaranhe seus dedos nos meus cabelos. Que corra dois dedos pela minha coluna e me beije a nuca enquanto assistimos à alguma coisa na tv. Que me abrace depois do sexo e diga qualquer coisa dessas que você tanto evita. Que explique o que são essas tantas coisas que você gosta em mim e não discorre. [...] Que você me espere na porta da minha casa e não me diga absolutamente nada que eu não consiga entender através de um beijo desses de portão. Que você nunca mais me deixe ir embora. Que nunca mais escolha o certo, só porque o errado é loucura demais. Que você seja um pouco egoísta sim, e me peça pra ficar com você, porque é por mim que seu estômago esfria, porque é por mim que você confunde as palavras, porque é em mim que você pensa quando o coração acelera. Quero ser a primeira coisa que você pensa quando acorda, e a última antes de dormir. Quero atormentar a sua memória com as nossas melhores cenas, como você atormenta a minha. Quero que nunca me tire desse patamar de melhor amor, de melhor desejo, de melhor destino. Quero que nunca se esqueça do quanto sente falta da minha pele e do meu beijo. Quero que pare de desdenhar tudo o que eu te digo, pra ver se me supera mais rápido. Você sabe que não. Você sabe que sou o que você sempre quis, enrolada em um roteiro de Woody Allen. Você sabe que eu tenho tudo o que você vem desejando há muito tempo, e descobriu que é tudo verdade. Quero que pare de varrer tudo isso pra debaixo do tapete e que venha. E me tira o fôlego de novo. E me invade. E não luta. Não luta. Quero tudo isso, enquanto ainda te quero…)
Nada. Sei que eu não posso esperar nada de você…

Silêncio. Ela engole seco o azedo das palavras mastigadas. O coração dele aperta. Guarda coisa demais lá dentro.

Marcha, soldado, cabeça de papel...


Se eu for escrever aqui sobre todas as marchas que tem havido, o texto vai ficar grande demais. Então vou me ater à guerra que tem sido travada entre dois grupos: homossexuais e evangélicos.

Antes de mais nada, deixa eu explicar umas coisas. Primeiro: embora esteja ausente há algum tempo de templos, ainda me considero evangélica (crente, protestante, whatever), e ainda admiro as ideias pregadas por John Wesley e propagadas pela Igreja Metodista. Mas, de forma alguma, o que eu digo representa o que é ensinado nessa instituição. Eu sei ler, graças a Lutero tenho acesso à Bíblia (aliás, por causa do mestrado, nos últimos meses eu tenho tido mais acesso do que gostaria, diga-se), e sei pensar sozinha, muito obrigada. Represento minhas próprias ideias e pensamentos, não uma instituição. Eu ouço, filtro, e, de acordo com minha consciência e experiência de vida, resolvo o que me parece coerente ou não. Se você acha que pra seguir alguma religião tem que baixar a cabeça pra tudo que o dirigente diz e concordar com tudo o que é pregado, melhor fechar esta página e ir ler as novidades da Igreja Batista da Lagoinha.

Segundo: Eu defendo o direito inalienável ao respeito pela opinião alheia – e pelo direito de fazer o que bem entender da própria vida, desde que não agrida o outro. Eu não tenho absolutamente nada contra os gays, inclusive conheço alguns que são pessoas maravilhosas – melhores, aliás, que muitos crentes que já vi por aí. Confesso que acho estranho gays se beijando, sejam eles homens ou mulheres. Acho, sim. Mas isso tem a ver com minha criação, com o mundo em que vivi grande parte da vida. Jamais vou discriminar ou maltratar alguém por causa disso, nem condenar ou dar lição de moral. Quem sou eu pra dar lição de moral em alguém? Tenho meus próprios motivos pra ser repreendida, como todo mundo. Quem não tem pecado que atire a primeira pedra – lembram disso?

Isto posto, vamos a algumas coisas que eu tenho visto e que me incomodam muito. Vou começar com o que é considerado atualmente como o politicamente correto, e voltar minha metralhadora giratória aos evangélicos (se com tudo que eu já escrevi até hoje sobre minha própria visão de mundo, igreja e religião ninguém tentou me exorcizar ou me impedir de entrar em algum templo, mais uma opinião polêmica, menos uma, que diferença vai fazer, né?). Eu escrevi isso há algum tempo no Facebook, e cada vez tenho visto mais motivos para repetir: VOCÊS ESTÃO FAZENDO ISSO DE UM JEITO MUITO ERRADO. Esse discurso do “nós amamos os homossexuais mas não amamos o homossexualismo” é vazio. Desculpa. Eu entendo o princípio, mas a argumentação tá furada. Ok, eu posso dizer que amo os matemáticos mas odeio a Matemática. Opinião registrada, eles vão continuar muito bem, obrigado, vivendo a vida deles do jeito que acham que devem viver. Com os homossexuais é quase isso. A ideia que o discurso de vocês tá passando é “olha, eu amo você, mas tua passagem pro inferno já tá comprada, viu? Malzaê”. Amigo, o que o cara faz entre quatro paredes é da tua conta? Por acaso ele se mete na forma como você transa com a tua mulher? Pense bem. Eu acho que a resposta é não pra ambas as questões. “Ah, mas Deus vê tudo!” Ok, então deixa que Ele resolve o que vai fazer com a vida (ou a alma) do camarada, e para de se oferecer como porta-voz do Divino. Ou, pior, como promotor – se eu bem me lembro, quem exerce essa função é outra figura, ex-angelical. Qual o problema de dois homens ou duas mulheres andando de mãos dadas? Qual o problema deles se beijarem? Você se sente incomodado, como eu mesma já admiti que me sinto? NÃO OLHA. Simples, não? Resolve seu problema e deixa os outros serem felizes em paz. “Mas nossa função, dada por Jesus, é pregar o evangelho” e blá, blá, blá. De novo, se eu estou bem lembrada, a frase é “Ide pelo mundo e PREGAI o evangelho”, e não “OBRIGUE OS OUTROS A SEGUIREM o evangelho”. Percebem a sutil diferença? O pregai, nesse caso, não significa enfiar na cabeça dos outros à base de marretada. Pense nisso. Meu ex costumava dizer que Deus não precisa de advogado. Vão ajudar aos necessitados e falar do amor de Deus – porque, amor sim, é algo que tem faltado muito por aí e precisa ser propagado.

Então, agora que já dei motivos pra levar pedrada dos meus irmãos evangélicos, vamos fechar o caixão com o ódio dos LGBTSEGRKLHOXS (a cada ano essa sigla aumenta mais, não consigo acompanhar). Primeiro: independente do que minhas opiniões religiosas digam, o Estado é laico, então o que o Legislativo decide, eu cumpro. Sendo muito sincera, não esperem me ver comemorando a conquista do casamento gay, porque isso não me atinge em particular. Querem casar e a lei permite? Casem. Querem divorciar? Divorciem-se. Não vou levantar bandeiras, desculpem. Respeito cada um de vocês, a dificuldade que enfrentam, os preconceitos inclusive com agressões. Fdp é fdp independente de cor, sexo, gênero, religião ou condição financeira. Só o que tá me dando nos nervos é o uso desse preconceito – que eu sei que existe, não sou cega nem burra – pra um estardalhaço algumas vezes sem sentido. Pra que, por exemplo, retratar imagens de santos como gays? Pra desafiar a Igreja Católica? É assim que vocês esperam respeito, descendo ao nível de quem fala e faz merda? Desafiando quem acha que vocês são pecadores? Gente, na boa, relações homem com homem e mulher com mulher sempre existiram em qualquer sociedade, em qualquer tempo, mas aceitem, quando a Bíblia foi escrita – e pelas pessoas que viviam naquela época, naquela sociedade, e a escreveram – homossexualismo era ABOMINAÇÃO. Tá lá escrito, não sou eu que tô dizendo. Ponto. Se os caras acreditam nisso, deixa os caras, pô! CLARO, lembrando: deixa os caras desde que não agridam vocês. Respeito é o princípio primordial da boa convivência em sociedade, e isso tá além de religião. Muitos de vocês acham os religiosos boçais e ignorantes – e isso nem tá ESCRITO em lugar nenhum, imagina eles, que têm registro escrito. Fica difícil vocês conquistarem os religiosos pra causa de vocês – que eu acho justa – desafiando-os dessa maneira, ou querendo, por exemplo, casar na igreja. Entendam: religiões são feitas de DOGMAS. Não dá pra você se meter numa religião sem acreditar PELO MENOS nos princípios fundamentais dela. Não dá pra eu ser cristã se pra mim Jesus foi só uma historinha inventada por um imperador romano. Não dá pra eu ser do candomblé se eu sou contra sacrifícios de animais. Não dá pra eu ser kardecista se não acredito em espíritos. Captaram? “Ah, mas existe uma igreja que casa homossexuais”. Sorry, mas não é igreja. É uma seita. Como eu já disse pra uma amiga, se você pegar trechos descontextualizados da Bíblia, você pode provar quase qualquer coisa – desde ET’s até que Deus não existe ou é um cara muito, mas muito ruim. E o contexto, no caso homossexual é: os judeus do I século não admitiam a prática. Ponto. Não só por julgarem anti-natural (por favor, estamos falando de I século, não me venham com ladainha sobre o que é “natural” hoje), como também porque era comum a várias outras sociedades e os judeus tinham uma coisa de querer ser diferentes (é, estou sendo simplista pra economizar espaço e tempo). Esse é o contexto. Estou estudando o livro de Levítico, e o texto que se posiciona contra a prática é muito claro (pelo menos no que se refere a homens, que era quem realmente importava pra época). Isso afeta seu dia a dia? Desde que não joguem uma Bíblia na sua cabeça, eu acho que não. Então, queridos, espalhem a alegria de vocês pelo mundo, beijem muito na boca, lutem pelos seus direitos, mas parem de desafiar os que não entendem ou não concordam. Sejam magnânimos e deem aquilo que eles não sabem ou ainda não conseguem dar a vocês: respeito. Todo mundo tem limitações. Vocês também as têm. Subam no salto, façam a egípcia e finjam que não está acontecendo nada. Porque se vocês respondem no mesmo tom, acabam perdendo a razão.

Enfim, o povo anda por aí fazendo marcha a torto e a direito, pra cima e pra baixo, sem refletir muito no que fazem, falam, ou as ideias que estão passando pros outros – que muitas vezes acabam sendo um tiro no pé. Antes de quererem tirar o demônio do meu corpo ou me acusar de lésbica enrustida, parem, pensem, reflitam nas bandeiras que estão levantando e, principalmente, no PORQUE e COMO as estão levantando. Não sejam como o soldadinho com cabeça de papel da cantiga infantil.

Sobre o aborto



Então, passada a fase da frescurite aguda (mentira, mas cansei de falar nisso - "Supere isso e, se não puder superar, supere o vício de falar a respeito", já dizia Caio Fernando Abreu)...

Semana passada, na aula de Sociologia, no meio das discussões surgiu o assunto aborto - e esse é um tema polêmico em qualquer lugar, a qualquer tempo. Há muito que ser pensado quando se trata de concordar ou discordar de algo assim. As questões morais envolvidas são muitas, as religiosas, nem se fala. Então eu vou escrever aqui algumas coisas que penso a respeito desse assunto espinhoso.

Pra começo de conversa, religiosamente falando, eu sou contra - exceto em casos de violência sexual ou em casos em que a vida da mãe corra riscos. Mas religião é aquilo, ou você tem, ou você não tem, então vamos pular essa parte e vamos às questões morais e práticas em se tratando de sociedade brasileira.

Um dos principais argumentos favoráveis é o fato da mulher poder dispor de seu corpo como bem entender. Mas até que ponto é do corpo da mulher que estamos falando? A partir de quando o feto pode ser considerado um ser vivo - e aí não é do corpo feminino que estamos falando, mas de um outro corpo, o corpo de um ser que momentaneamente é dependente daquela mulher? Ok, um cachorro, uma árvore também são seres vivos, e aí? Um feto pode ser considerado um indivíduo? E o chamado "sofimento fetal", que acontece em algumas situações quando há complicações no parto? É muito delicado determinar até onde vai o direito da mulher de agir sobre seu corpo e onde começa o direito de uma criança que ainda não nasceu. É quase como determinar quando começa efetivamente a vida - porque, a partir daí, seria assassinato. O enrosco moral que cerca esse tema tá longe de ser resolvido.

Agora, falemos sobre assuntos práticos; não é melhor liberar o aborto ao invés de presenciar a multiplicação de menores infratores, pais que abandonam seus filhos em lixeiras ou crianças que muitas vezes ficam trancadas em casa sozinhas, à mercê de qualquer tragédia, sem nenhum adulto que olhe por elas? Seria, se isso significasse a diminuição de todos esses fatores - e aqui eu falo da realidade brasileira. Ah, a camisinha estourou, bebi demais e não pensei nisso na hora, o tesão era mais forte do que a precaução... Pílula, conhece? Pílula do dia seguinte, já ouviu falar? É mais barato do que um aborto, seja ele legal ou não - e causa menos estragos pra todo mundo. Sejamos francos: alguém que não tem dinheiro pra comprar uma camisinha, que custa aí menos de R$ 2,00 (e pode ser obtida gratuitamente em postos de saúde!), ou um outro contraceptivo qualquer (a chamada "pílula do dia seguinte" resolve todas as desculpas da camisinha que estoura, da bebida ou do excesso de tesão), vai ter dinheiro pra pagar uma intervenção cirúrgica como o aborto? Ou, no caso dele ser oferecido pelo Sistema Único de Saúde, sejamos realistas; nossos hospitais públicos mais parecem matadouros do que lugares onde vidas são salvas. É recorrente na mídia reportagens sobre a falência do sistema público de saúde, com pacientes abandonados em corredores sem o mínimo de higiene, e outros que são mandados embora pra morrer em casa. Que condições esses lugares podem oferecer no caso de milhares de mulheres fazendo fila em suas portas, querendo tirar de dentro de si um feto - que, com um pouco mais de cuidado e atenção, não teria sido posto ali? Pessoas esperam MESES por uma simples consulta, quanto mais por uma cirurgia; no caso de uma gravidez, essa espera não pode ser longa ou o aborto não pode mais ser feito. Aí tiramos a vaga de alguém que depende de uma cirurgia pra sobreviver pra dar lugar a uma irresponsávei que daqui a seis meses pode estar lá de novo, na mesma situação. Ah, me poupe.

Talvez eu seja muito dura com alguns assuntos, com a realidade da maioria das pessoas. Talvez minha visão seja muito antiquada, tacanha, radical. Pode ser. Mas o que eu vejo é um monte de gente que não tem um pingo de bom senso pra cuidar de si mesmo, muito menos de uma criança. Sou mais favorável à esterilização (ok, me chamem de facista) do que ao aborto. Não tem condições de ter filhos, não pode cuidar? Então faça laqueadura das trompas - uma intervenção bastante simples e rápida, bem mais que o aborto, e que pode esperar alguns meses pra ser feita. Amanhã ou depois conseguiu condições? Adote. Há milhares de crianças por esse Brasil afora precisando de um lar e de carinho. Agora, aborto não vai resolver a situação dos brasileiros pobres que procriam mais do que coelhos, se esses mesmos pobres não se preocupam sequer em usar contraceptivos pra prevenir que mais e mais crianças sejam jogadas nesse mundo sem um pingo de condições de vida.

Religiosamente eu sou contra, moralmente eu tenho uma certa margem de dúvidas. Mas, sendo pragmática, a verdade é que tornar o aborto uma prática legal no Brasil provavelmente vai criar ainda mais problemas do que soluções para os que já existem. Se não houver uma mudança de postura e uma radical educação sobre os meios de se evitar uma gravidez indesejada, o aborto só vai tornar nosso sistema público de saúde mais saturado, e vai acabar gerando uma revolta na população que acha que pode fazer filho como quem troca de roupa, com a falsa garantia de que em qualquer hospital vai poder resolver isso - assim, como quem toma uma aspirina pra dor de cabeça.

* Pausa para descanso finda, de volta aos estudos... "Vejo" vocês sei lá quando, meus dois ou três leitores.

De outros

Pra encerrar o assunto:

‎"Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa."
(Martha Medeiros)

E isso acontece tão poucas vezes na vida...

Enfim. Voltamos a nossa programação normal.

Pequeno surto entre-músicas

Eu preciso de uma noite inteira dançando, a dança como catarse pra esquecer o que eu não consigo mais fingir que não está dentro de mim. Eu preciso de uma pista cheia de gente bêbada, com luzes piscantes e música ensurdecedora, pra me fazer esquecer do seu rosto, um rosto que povoa minha memória, meus pensamentos, a cada respiração eu penso em você, em como eu gostaria que você estivesse aqui, dançando comigo, rindo, celebrando comigo. Minha alegria não é completa sem você, não é mais do que uma mera sombra do que já senti um dia. Sonhei com você esta noite, e você estava tão triste e chorava no meu colo, e eu tenho vontade de chorar só de me lembrar disso. Como você está agora? Não sei, não faço a menor ideia. Não sei se está bem, não sei se está feliz ou triste, ou preocupado, ou sequer se ainda pensa em mim. Eu tento, juro que tento esquecer você, com tanta força como jamais tentei fazer qualquer coisa na vida. Entrego-me à catarse, danço de olhos fechados e atraio olhares, surpreendendo até quem me conhece há muito tempo, tal é minha entrega à dança. Preciso fugir de mim e do tanto de você que ainda existe em mim – eu não consigo separar quem sou eu e quem é você dentro de mim. Sim, eu bebi. Não o suficiente pra perder o ferrenho controle que mantenho sobre mim mesma – só você consegue fazer isso, pode contabilizar na sua lista de conquistas mais esta –, mas só o suficiente pra conseguir ficar um pouco alegre, o que tem sido difícil ultimamente. O suficiente pra tentar vencer a dor ainda que momentaneamente, a saudade que a cada dia me corrói, como se fosse um câncer, devorando cada célula do meu corpo. Danço, danço além do que minha combalida resistência física e respiratória permitem, dancei até ficar sem ar, até passar mal por não conseguir mais respirar. Dancei pra tentar te esquecer – mas cada letra de música canta teu nome, cada vez que fecho os olhos é teu rosto que enxergo. Luto contra mim mesma, luto pra esquecer tudo, luto pra tirar o que ainda há de você dentro de mim, mas é como me matar lentamente. Enfeito-me, seduzo, sorrio, mas tudo me parece vazio. Procuro seu rosto em todos os outros rostos. Sinto as lágrimas assomarem aos olhos com muito mais frequência do que gostaria, e mesmo agora, quando fugi por um momento da minha pseudo-alegria , sinto vontade de chorar por pensar o quanto estaria mais genuinamente feliz com você aqui comigo.

Vou voltar a dançar. Preciso esquecer de mim e de você, porque, dentro de mim, por mais que eu tente negar e esquecer, nós somos um só, e você está aqui comigo. Ainda que sua presença esteja apenas na ausência, ainda que eu tente negar e esquecer, você está sempre comigo.

Porque eu odeio o dia das mães e dos pais




Podem me chamar de insensível, podem achar absurdo, mas eu não suporto essas datas comerciais. Cumprimento por educação, por tradição, mas detesto (a data, não necessariamente cumprimentar quem curte e acha importante). Já mencionei o assunto quando falei sobre o Natal, e nem vou citar o dia dos namorados pra não dar margem a gracinhas. Mas e o dia das mães? E o dia dos pais?

Galera, na boa, essa visão cristã-romântica de que mãe e pai é a melhor coisa da vida nem sempre funciona. Em prol do aumento das vendas o comércio ENCHE NOSSO SACO o tempo todo nas semanas que antecedem essas datas, sem se importar com o sentimento das pessoas.

“Ah, mas mãe e pai são as melhores coisas que existem, e devem ser homenageados à exaustão no seu dia e blá blá blá”.

Ah tá. Então usa esse argumento pra uma pessoa que foi espancada pelos pais a vida toda. Pra alguém que sofreu abuso sexual do próprio pai. Pra alguém que foi abandonado numa lixeira (já que isso parece que virou moda), ou pra quem cresceu vendo os pais se drogarem e/ou se embriagarem. Pra quem viu os pais serem presos por assassinarem a irmã de cinco anos, como é o caso dos filhos do casal Nardoni. Explica isso pra alguém que tem a coragem de matar os próprios pais. Ou pra quem tenta entender como um pai ou uma mãe pode matar os próprios filhos.

Explica também como alguém que perdeu o pai ou a mãe recentemente consegue não se sentir deprimido e com choro fácil no meio de todo esse marketing sentimentalóide. Ou, pior, pra quem perdeu os filhos de forma trágica, como os pais dos adolescentes que foram mortos na chacina da escola em Realengo. Explica pra uma mulher, cujo sonho sempre foi ter filhos e não pode tê-los, como reagir nessa época. Ou pra uma que vê seu sonho de ser mãe se desmoronar diante de um aborto espontâneo.

Quem teve uma vida tranquila ao lado de pais carinhosos não precisa de um dia pra lembrar disso. Quem não teve, bem poderia ser poupado de toda essa avalanche de pressão midiática colocando sal em feridas que, provavelmente, nunca vão cicatrizar.