Relacionamentos pós-modernos



Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que eu não dei procuração a ninguém pra queimar sutiã em meu nome, muito menos pra defender essa zona de comportamento entre os gêneros que se apresenta por aí. Essa bagunça a que muitos chamam de "liberdade", onde a experimentação de tudo é acessível a todos, só torna o mundo um lugar MUITO confuso. Pelo menos pra mim. Eu já sei há alguns anos - e cada vez tenho mais certeza - que homem não sabe terminar relacionamento. Mas não saber começar é novidade.

Ok, eu já fui bem feminista. Do tipo quase estereotipado. Homens e mulheres eram iguais, tinham direitos e deveres iguais e podiam fazer as mesmíssimas coisas. Eu gostava de carregar peso só pra provar que eu PODIA. Eu brigava com meus amiguinhos homens durante a adolescência pra provar que eu PODIA ser tão forte quanto eles - o que a fisiologia obviamente discordava, mas eu nunca dei o braço a torcer, mesmo saindo com ele (o braço) roxo. Mas, sabe? Cansei. Tédio total. Pra que isso? Quer carregar a bolsa pra mim porque acha que tá muito pesada? Carregue. Quer se achar mais forte que eu? Ache-se, provavelmente é mesmo, ainda que eu tenha uma força considerável, ela vai ser menor do que a da maioria dos homens. E eu durmo muito bem mesmo sabendo disso.

Mas em matéria de relacionamentos a coisa tá confusa num nível que eu não consigo alcançar. Tipo, sempre houve protocolos de conquista desde que o mundo é mundo. Até entre os animais - os outros, os chamados "irracionais" (rá) - é assim. Não questiono isso. Sou uma pessoa muito cheia de protocolos. Acho bacana, acho coerente, acho que torna as coisas mais simples e claras, cada um no seu quadrado. Mas eu não tô mais entendendo como a coisa se processa hoje em dia.

Quer dizer, antigamente os homens chegavam nas mulheres. Eles davam em cima, eles cortejavam, e cabia a nós jogar um certo charme pra chamar a atenção de quem nos interessava ou cortar os que não interessavam. Tudo era muito claro. Os machos faziam gracinhas pra chamar a atenção das fêmeas - alá os bichos dando exemplo de novo. E funciona com eles, e durante milênios funcionou com a gente. Maaas, insatisfeito como é o ser humano, alguém resolveu que não tava bom assim, e pronto. Agora é essa zona que presenciamos. As mulheres vão à caça - gostaria de ressaltar que não faço parte da Família Dinossauro e não me apraz caçar minha comida, prefiro sentar calmamente num bom restaurante e esperar ser servida.

É sério, a falta de atitude dos homens já há algum tempo tem me exasperado. Eu costumo brincar que os homens têm medo de mim - mas é só brincadeira, porque reluto em aceitar que chegamos ao ponto de um HOMEM ter medo de uma MULHER. Eu não mordo - exceto em contextos especiais -, não tenho nenhuma anomalia aparente (as questões de personalidade não contam, né?), as pessoas me acham bonita e eu tenho certo grau de inteligência. Não acredito que o fato de gostar de futebol, UFC e abominar rosa e comédias românticas me torna alguém temível - não deveria ser o contrário, já que eu tenho mais gostos em comum com os homens em geral do que as menininhas fresquinhas? Quando eu era adolescente e BATIA nos meninos, eles não tinham medo de mim! Porque os homens de hoje, nos quais NÃO bato, teriam? Não faz sentido, né? Pois é, eu também acho.

Mas os caras não têm reação. Impressionante. Eu fico pensando nos dois últimos com quem me envolvi. A iniciativa do primeiro beijo teve que ser minha, porque se dependesse deles ficaríamos uma vida olhando um pra cara do outro - isso porque o último tinha até bastante atitude, mas de vez em quando aparentemente travava na minha frente (travar é o termo, sempre travou, incrível. Quer dizer, guardados os devidos contextos, né, há situações e situações). Cara, que inferno! Mermão, acabou o assunto, ficou um olhando pro outro? Não tem o que pensar, chuta pro gol e corre pro abraço. A garota não vai meter a mão na sua cara se você beijá-la - provavelmente o faria se você cruzasse com ela na rua e a agarrasse. Bem, pelo menos eu faria, nessas circunstâncias. Mas não, já houve um papo, já se conhecem, já houve insinuações nas entrelinhas, brincadeirinhas, ela já riu daquela sua piada sem graça, CACETE, tá esperando mais o que? Mas não. A pessoa fica lá, dãããã. Ou então demonstra algum interesse e corre. Aí você desiste. Aí vem e cutuca mais um pouco, "oi, eu tô aqui, olha pra mim". Aí corre. APA, viu.

Por exemplo. Você fica de marcar um encontro com um grupo de amigos. Um deles - que te desperta algum nível de interesse - de repente começa a te perguntar "e aí, quando vai rolar?". Começa a te ligar pra falar sobre coisas de trabalho. Pergunta coisas que você JÁ disse. Puxa assunto do nada em algum messenger da vida. Aí cobra de novo o tal do encontro. QUÉDIZÊ, você pensa "nesse angu pode ter caroço", né? Vamos investir. Aí você marca o tal do encontro, por causa de imprevistos o povo dá pra trás em cima da hora, mas você se mostra disponível - pô, vamos tomar uma (coca cola, no meu caso, já que não bebo cerveja), o que que tem demais nisso? Trocar ideias, conversar, espairecer. Aí a pessoa te diz "É, melhor deixar pra semana que vem então". Oi? Qual o problema? Eu fico pensando se eu tenho um papo tão imbecil assim ou se a pessoa tem medo de ficar sozinha comigo (num lugar público, oi?), porque né, realmente não me passa nada pela cabeça muito coerente além disso. Não tá a fim? Não dá corda. Tá a fim? Então não paga de mocinha envergonhada, porra.

Ai que saudade dos homens que tinham atitude de homem. Daqueles que chamavam pra sair - mesmo que você não quisesse, era só dizer "pô, não dá", eles já entendiam a mensagem e a amizade continuava. Mas agora não. É um tal joguinho de mostrar interesse, não mostrar interesse, vai não vai, quer não quer que me irrita profundamente. Eu sou antiquada. Velha. Quadrada. Gosto de ser cortejada. Gosto que o homem tome a iniciativa. Não sou uma mulher pós-moderna e bem resolvida (no sentido pós-moderno da coisa), que vai em cima do homem que lhe interessa. Não. Eu gosto de gentilezas, gosto de sutilezas, de homens com atitude, que mostram a que vieram. Principalmente: que SABEM o que quer - ô coisa rara hoje em dia. Cada vez mais perco a paciência com essa mistura de comportamento, onde não há mais papeis claros a serem desempenhados. Não falo essa língua não, na boa.

O problema provavelmente deve ser comigo. Eu que atraio homem banana, é a única explicação racional que consigo conceber. Meu histórico demonstra isso, o último cara com quem me envolvi e que tinha atitude de começar e terminar alguma coisa foi aos 18 anos, ou seja...