Sexy a metro?


A vaidade sempre esteve em voga nas sociedades de todos os tempos. Na Grécia Antiga, ter um belo corpo era sinal de ser um bom cidadão. Para os romanos, mens sana in corpore sano. Salomão, o mais sábio rei judeu, (teoricamente) teria dito "vaidade, tudo é vaidade". E ela então, com o passar do tempo, virou um pecado capital.

O problema é que no mundo midiático de hoje, aparência começa a ser tudo. Mulheres morrem nas mesas de cirurgia fazendo lipoaspiração de gorduras muitas vezes quase inexistentes. As academias vivem lotadas de pessoas em busca do corpo "perfeito". Cosmética, estética, são ramos cada vez mais em expansão. Normal, acho. A partir do momento que você vive num mundo tão "exposto", é razoavelmente presumível que se preocupe com como vai aparecer. Só que o povo às vezes perde a linha.

O conceito de metrosexual por exemplo, pra mim, é bizarro além da compreensão. Mas, antes que eu explique porque não gosto disso, cabe esclarecer algumas coisas.

Primeiro: Eu não gosto de ogro. Homem das cavernas. Não gosto do tipo que anda com barba por fazer, camiseta suja, bermuda rasgada e unha encardida e acha que cuspir no chão e coçar o saco em público é sinal de masculinidade. Óbvio que higiene e certa dose de vaidade são recomendadas. Acho bonito homens com unha bem feita (embora eu ache um porre fazer as minhas) - a base é até dispensável, acho. Mas não me incomoda, se usada. Não me incomodaria nem com, guardadas as devidas proporções, homem que tem costume de se depilar - eu não gosto de pelos. A barba, em especial, me incomoda horrores por eu ter uma pele muito sensível e ficar toda arranhada depois de "certos" beijos. Peito lisinho, rosto lisinho, eu fico feliz até esse ponto. O cara saber se vestir discreta e elegantemente também faz minha cabeça.

Agora, ó; se o camarada começa com frescura demais, com enfeitação demais, já perde a moral comigo. Não entra na minha cabeça esse pessoalzinho que perde horas se olhando no espelho. Narciso não é meu personagem preferido na Mitologia Grega, fica a dica.

Daí, minha amiga, realiza a cena: Você em casa, dando os toques finais pr'aquele encontro especial - ou pra alguma festa, que seja -, preocupada com o horário porque está super atrasada (como o salão fica cheio nas sextas!), e não vai demorar muito aquele gato com quem você tá saindo vai tocar o interfone, provavelmente bufando. Afinal, homem se arrumar é fácil, né? Toma um banho, faz a barba, coloca uma camisa, uma calça e um sapato e tá pronto. E você lá, com uma dúvida terrível, quase a ponto de chorar, sem saber se vai com o scarpin preto ou com a sandália roxa.

O telefone toca. Estranho. Se fosse o gato, ele tocaria o interfone. Não?

- Alô.
- Oi, linda.
- Ah, oi! Pois é, desculpa, eu tô um pouco atrasada, mas é que...
- Nada, relaxa. Eu tô ligando justamente pra avisar que vou me atrasar mais uma meia hora, porque minha manicure não tinha a cor de esmalte que eu queria, e isso acabou me enrolando aqui... E, pô, é aquilo, não é qualquer tom que combina com a minha camisa beterraba, né?

Para tudo.

Quer dizer... Eu sou mulher, e pra mim beterraba é coisa de comer. Como assim o esmalte não combina com a camisa, cara-pálida?!

O diálogo pode parecer surreal, mas juro que não acho impossível de acontecer com gente tipo Cristiano Ronaldo, que combina o esmalte com a sunga. E eu acho que estamos vivendo uma epidemia de homem assim.

Eu sei que não sou exatamente um exemplo de mulher fashion. Não ligo pra moda. Se for preciso, me arrumo em quinze minutos, tenho horror a salão de beleza (vou eventualmente cortar meu cabelo e olhe lá), e uma preguiça de mais ou menos infinito + 5 pra fazer as unhas. Só penteio o cabelo quando lavo (mais pra espalhar o creme sem enxágue do que por qualquer outro motivo), e meu uniforme de dia a dia é tênis, jeans e camiseta. Não sei diferenciar uma grife da outra (aliás, em geral eu nem presto atenção a isso), e coisas como bordeaux, salmão e beterraba são, pra mim, vinho, peixe e legume, respectivamente. Mas tenho minhas vaidades pontuais e, ainda que não pareça pela lista acima, sei me cuidar. Gosto que homem saiba se cuidar também, e tenha uma vaidade ou outra. Agora não dá é pra aguentar o cara querer competir comigo horário de depilação e esconder meu rímel na gaveta de cuecas dele, né?!

Problema de cabeça


O assunto do momento, claro, é o caso do ex-goleiro do Flamengo, Bruno, suspeito de sequestrar e assassinar a ex-amante e mãe de um suposto filho seu.

Tirando os orgasmos múltiplos que a torcida arco-íris (ou seja, anti-flamenguistas) andam tendo com essa história, achando que encontraram a prova definitiva pra sua falácia de que Flamengo é time de bandido - como se jogadores não fossem a coisa mais volátil do futebol, hoje estão aqui, amanhã estão ali -, eu acho que tem muito mais no que pensar sobre essa história do que a barbaridade com que o caso foi relatado pelo tal menor. Até porque, vamos combinar, a humanidade nunca primou pelo respeito à vida; basta dar uma olhadinha nos métodos de tortura medievais que o tal "Neném", que supostamente matou e esquartejou a moça servindo-a de jantar pros seus bichinhos de estimação, vira quase um santo. Ela pelo menos foi dada aos cães já morta; lá em Roma os caras eram dados aos leões vivos mesmo. E o povo achava graça.

Mas enfim, não é sobre o sadismo inato do ser humano que eu ando pensando; é na nossa cultura podre, imbecilmente burra e machista. É ela que tem causado situações como essa.

Pra começo de conversa, homem é criado pra pensar com a cabeça de baixo. E por isso se mete em tanta enrascada. Pode ver, a maioria emagadora de merdas que acontecem são causadas por homens. Por que? Porque pensou com a cabeça de baixo, obviamente.

Queridos machos da espécie; conformem-se. Vocês mal conseguem administrar uma mulher por vez, vão tentar se meter com mais de uma PRA QUE? Porque a cabeça de baixo manda, não é? Aí vocês ignoram totalmente que a que foi feita pra pensar foi a de cima, e vão fazer besteira, felizes e contentes. Sim, porque aquele velho argumento de "instinto" já caiu por terra cientificamente. A menos que você tenha o cérebro de um cachorro ou algo semelhante, teoricamente o cérebro humano é evoluído o suficiente pra não dar vazão a seus instintos. Ou você ataca um vendedor de cerveja quando tá com sede? Se não, sinto muito, mas a desculpa do instinto já não cola mais.

Se você é um homem trabalhador, dos que não ganham mais de duzentos mil pra brincar de bola, provavelmente te disseram que "ser o garanhão", ser o macho alfa, o homem com H maiúsculo é ter sua esposa e dar umas puladas de cerca eventuais. Só pra desestressar, sabe como é. Sua querida esposa nunca vai desconfiar, afinal, as mulheres não pensam nisso. Pois ó, dica: esquece. As mulheres SEMPRE SABEM quando isso acontece. As que não sabem é porque fazem questão disso. Se você deu a "sorte" de encontrar uma assim e tá pouco se lixando pra felicidade dela, vai na fé. Seja egoísta. É, egoísta mesmo. Não, NÃO EXISTE essa onda de que vocês têm mais necessidades sexuais do que as mulheres (a menos que se enquadrem na categoria dos cérebro-de-cachorro mencionado mais acima). Queridos, entendam; vocês não são espertos o suficiente pra esconder. Vocês não sabem mentir. Aí sua esposa encontra a prova cabal da merda que você fez, só pra "desestressar", e olha a dor de cabeça. Tá estressado? Vai pescar. Economiza uma grana com peixe e não arruma mais problema. Ou então se muda pra Arábia Saudita e casa com mais de uma.

A coisa complica quando se trata dos deslumbrados que ganham cifras acima de seis dígitos. Porque, esses sim, só pensam com a cabeça de baixo MESMO. Usam a de cima pra cabecear a bola se for jogador de linha; no caso do Bruno, nem pra isso, como se vê. Esses acham que estão abafando em suas orgias com várias mulheres ao mesmo tempo. Olha, a equação é simples, mas vou tentar desenhar; vocês têm, em média, dez por cento do cérebro de uma mulher. Se juntar três, meu filho, você tá MUITO em desvantagem. Essas das "festinhas particulares", em especial, sabem ser muito mais espertas do que vocês jamais serão, porque conseguem seu dinheiro enquanto vocês, otários, trabalham (se é que jogar bola pode ser considerado trabalho, mas pulemos essa discussão filosófica). Depois não adianta chorar ao ter que pagar pensões até ir à falência, como o Romário, pagar mico público com travestis como o Ronaldo, ou até tentar resolver a coisa de uma forma mais "definitiva", como o Bruno. Optem pelas relações curtas, mas monogâmicas - e sempre com preservativos, obviamente. Ou façam vasectomia. Sério, vocês vão ser bem mais felizes e usufruir melhor seus milhões.

Se um dia eu tiver um filho, definitivamente o maior ensinamento que posso dar a ele é: Pense SEMPRE com a cabeça de cima. Você vai se dar bem, acredite.

O provincianismo blogueiro ainda sobrevive

Eu não posso me considerar uma dinossauro em matéria de computador e internet; comecei a dar meus primeiros passos em 2000, e conheço gente que já tá no batente há muito mais tempo (ok, nem tanto assim, porque a internet ainda era meio que novidade naquele tempo). Mas assim que me pluguei à WWW, comecei a adentrar tudo que havia de interessante no meio - ou pelo menos tudo que parecia interessante a mim. Descobri o que eram e para que serviam os fóruns, as listas de discussão, e, supra-sumo da novidade, os blogs.

Sim, meus caros, lá pros idos da virada do milênio, a grande sensação eram os blogs.

Numa época em que Antonio Tabet ainda era um ilustre desconhecido com seu Kibeloco, Clarah Averbuck era uma gaúcha batendo a cabeça sem dinheiro em SP e contando suas desventuras no brazileira!preta - e apenas sonhando em escrever livros, enfim, numa época em que o Blogger se resumia a praticamente uma caixa de texto, onde você tinha que inserir tudo manualmente, de imagens e comentários a layout, tudo à base de html, o mundo dos blogueiros parecia uma cidade pequena. Não havia redes sociais (o Orkut só surgiu quatro anos depois), e a divulgação era muito feita através de boca a boca, através de comentários que muitas vezes viravam verdadeiros chats. Você tinha que ver pra ser visto, visitar pra ser visitado. E na maioria das vezes isso não era feito com essa intenção; você simplesmente gostava do comentário de alguém, ia visitar o blog do cara, e o favoritava.

Eu sou dessa época. De uma época em que o marketing pessoal era feito através da disseminação de ideias e baseado na curiosidade alheia.

Hoje em dia as coisas estão um pouco (muito) diferentes. O mundo dos blogs se transformou numa pauliceia desvairada, uma espécie de Las Vegas da World Web, com anúncios em neon e recados em blogs famosos e/ou com uma grande quantidade de visitantes e comentários pedindo, quase implorando "visita meu blog?", "deixa um comentário!". Os anúncios nas redes sociais viraram quase spam. No Twitter você vê perfis dedicados a este ou aquele blog, twittando e retwittando milhares de vezes o anúncio de um novo post. MSN, Orkut, Facebook - tudo é usado como lugar de propaganda na busca do sucesso e de seus quinze minutos de fama (retratados, pelo que percebi, na quantidade de comentários por post).

Não critico quem faz esse tipo de marketing massivo (embora alguns realmente já estejam começando a se assemelhar DEMAIS com spam e, com isso, me deixando irritada). Parece uma saída inteligente diante da enorme quantidade de informação a que estamos submetidos hoje em dia com redes sociais e ferramentas como o Google Reader. Eu só não consigo usar. Relutei algum tempo antes de colocar novamente, depois de muitos anos, o endereço do meu blog em meus perfis públicos. Relutei mais ainda a usar uma ferramenta do Facebook que anuncia na timeline dos meus amigos quando há um post novo. E ainda não me convenci a fazer o anúncio de novos posts via Twitter e Orkut. Pra mim, isso ainda se parece muito com propaganda não solicitada - leia-se spam.

O mundo da internet e dos blogs está gigantesco demais. As cidades pequenas de outrora, com suas panelinhas e seus nomes importantes, de repente ganharam ares de grande metrópole, com imigrantes de todos os lados, de todas as idades, todos achando que têm muita coisa a dizer e querendo - mais do que isso, aparentemente PRECISANDO - ser ouvidos (ou lidos, no caso). Não os culpo, não os critico; eles estão de acordo com o mundo virtual de hoje. Eu que não me adapto. Na verdade, embora eu procure sempre estar a par das novidades desse mundo que não para, acho que ainda sou muito provinciana pra certas coisas.