Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay...


Eu já acreditei em muita coisa ao longo da vida. Na verdade minha busca espiritual foi longa e, como uma pessoa curiosa e contestadora que sou, às vezes me parecia que seria infinita. Talvez seja mesmo, afinal, mas isso não vem ao caso. Graças a essa curiosidade, já pesquisei muitas coisas; ainda pré-adolescente comecei a ler um livro das minhas tias sobre "mestres ascencionados", algo a ver com chamas coloridas que nunca entendi direito. Houve uma época que quis ser bruxa e até escrevi para o Paulo Coelho - obviamente ele não tinha muito tempo para atender garotas de 14 anos.

Pesquisei também coisas mais "institucionalizadas", digamos assim. Conheço algo de Umbanda e Candomblé, mas a pluralidade me incomodava. Sempre cri num ser Único e Supremo, e por isso as entidades dos cultos afro-brasileiros me confundiam, pra dizer o mínimo. Por isso também meu interesse pela Wicca foi bem curto - ainda mais curto, eu diria, já que paganismo estava bem longe do que eu conseguia aceitar. Li as principais obras do Espiritismo, mas tudo me pareceu "científico" demais, quase acadêmico, e não era isso que eu queria. Até ir parar no que pode ser a maior contradição da minha vida, dados meu espírito e minha personalidade: o protestantismo. Lá eu sosseguei por muito tempo, e acho que, apesar de passível de contestação por alguns, por enquanto ainda continuo sossegada – embora os questionamentos e a insatisfação com as posturas adotadas pelos meus “irmãos” venham aumentando com o passar do tempo.

Mas uma coisa que sempre me acompanhou na minha fase pré-protestante foi o esoterismo. Sempre adorei incensos, signos, cristais, velas, todas essas coisas, e adoraria criar um gnomo no meu quintal (mas eles nunca me deram ideia). Obviamente, depois que adotei o protestantismo como linha religiosa, gnomos passaram a ser seres interessantes para aventuras de RPG, cristais ficam lindos enfeitando a estante (onde estão os meus), e velas são para serem usadas quando falta luz (ou num jantar romântico, ou ainda no “pós-jantar”, depende da imaginação de cada um – e eu tenho bastante). Mas algo sempre me chamou a atenção, e chama até hoje: signos.

Não falo de previsões ou coisas do tipo. Falo da relação entre o signo e a personalidade dos nativos. A parada voltou a me deixar cismada de uns 5 anos para cá, quando, durante um debate no corredor da faculdade, uma amiga de pouco tempo exclamou, exasperada: “para de ser tão escorpiana!!” Tipo, oi? Como assim? Aí eu voltei a pensar no assunto. E tenho pensado nisso sempre que vejo certas atitudes das pessoas. Por exemplo, eu já “previ” atitudes, reações e até respostas de pessoas que eu sequer conhecia, baseada na convivência que tive com outras de mesmo signo. Mas eu gosto de me usar como rato de laboratório, e em geral minhas análises são efetuadas sobre mim mesma.

Para exemplificar, recentemente num momento pra lá de insólito uma pessoa me disse: “que foi? (...) Não dá pra esconder nada agora”. E realmente não dava, e, raios, eu não estava escondendo nada! De onde saiu isso? A mesma pessoa já me disse que sempre tem a impressão de que eu estou escondendo alguma coisa. Gente. É óbvio que eu não tenho vocação para “big-sister” ou algo que o valha – até porque eu odeio ser julgada, e quero que a opinião dos outros sobre mim vá pro quinto dos infernos, juntamente com seus respectivos donos –, mas eu me exponho até demais na rede. A única explicação que encontro, embora possa não ser tão plausível assim para muita gente, é o ar misterioso associado ao meu signo.

Esse é só o exemplo mais recente que me fez pensar sobre o assunto. Mas se considerarmos que das quatro características principais que todos os sites, de uma forma ou de outra, atribuem aos escorpianos (escorpinianos, escorpianinos, whatever) – mistério, uma ligação extrema com o sexo, vingança e ciúmes – eu tenho com absoluta certeza pelo menos duas (e uma terceira dependendo das circunstâncias), acho que posso dizer que pode haver algo de verdadeiro nessa história. Se é coincidência ou não, eu não sei. Mas é fato que lendo certas coisas parece que estou lendo uma descrição de mim mesma. Como o texto abaixo, que eu copiei do portal do Terra há algum tempo (as descrições mudaram, pelo que pude ver há umas semanas). De um modo geral eu me acho bem parecida com isso (a parte de se atormentar, então! Quem escreveu esse trecho poderia ter se inspirado em mim); só não sei se quem me conhece concorda. :)

Não se deixe levar pelo preconceito. Se você cruzar com um tipo honesto, corajoso, íntegro, intenso, magnético, profundo, reservado, perspicaz, enigmático e fiel até que a morte os separe, corra e agarre esta oportunidade, porque você terá topado com um escorpionino. Seu astrólogo diz que os escorpiões são traiçoeiros? Mude de astrólogo, porque o escorpião tem um senso de lealdade só comparável ao de um mafioso siciliano - se você mantiver sua palavra, ele manterá a dele até debaixo de uma saraivada de balas. Sua melhor amiga diz que os escorpiões são don-juans incuráveis? Troque de amiga, porque o escorpião, embora tremendamente ligado ao sexo, é tão seletivo que prefere uma vida monástica a transar com qualquer um. Você andou lendo que o escorpião é um dissimulado? Largue esse livro pelo último de Agatha Christie, pois a notória reserva escorpionina não tem nada a ver com hipocrisia.

Um escorpião nunca mente, só omite - e na maior parte das vezes está repleto de razões, porque sua fabulosa antena psíquica pescou que o interlocutor em questão não é lá muito confiável. Esta, talvez, seja a principal característica deste signo cujo mito mais esclarecedor é o de Lúcifer, o anjo decaído, não por noitadas em excesso, mas por uma lucidez além dos limites: o grande pecado do escorpião, como o do ex-anjo, é um orgulho excessivo. Excessivo, mas não descabido. O probleminha de Lúcifer era que enxergava certas razões ocultas por trás da cantoria dos querubins - um desejozinho secreto de promoção naquele arcanjo que emitia uma nota mais aguda. Por isso ele acabou expulso do Paraíso, onde críticas não são facilmente digeridas. A mesma complicada sina ocorre com os terrenos escorpioninos: como eles são providos de uma espécie de olhar de raio X, que detecta as piores intenções até nos melhores sorrisos, acabam se tornando ossos duros de roer.

Um escorpionino tem um faro incomparável para imposturas, o que lhe torna difícil a vida em sociedade. Isto o transforma, muitas vezes, num introspectivo de cenho franzido: sua capacidade de captar algo de podre no reino da Dinamarca não tem paralelo, em todo zodíaco e em qualquer estatística. Mas se o escorpião saca tudo, inclusive o pior de cada um, é porque tem uma sensibilidade que chega às raias do insuportável. O que o torna, também, muito solidário com o sofrimento alheio - nada de estranhar que Ghandi tenha ascendente em escorpião. Um escorpião nunca foge de problemas. Não fuja dele, portanto, a não ser que você queira passar o resto da vida bocejando entediado.

(...)

O escorpião tem uma incontrolável tendência a se atormentar, culpando-se por tudo que dá errado à sua volta, e num raio de milhares de quilômetros além, Bósnia, Croácia e Cambodja incluídos. Como ele jamais pega leve, nem quando está de férias, esta mania de carregar o mundo e seus males pode se tornar meio desconfortável para aqueles que o cercam, e pretendem apenas tomar mais uma bebidinha e prosear. Como, igualmente, um escorpião nunca se lamenta ou faz o papel de vítima - o que ocorre muito com os outros signos de água, peixes e câncer - é preciso se tornar um telepata para saber exatamente o que vai mal com seu escorpião de estimação.

Se for uma mera insatisfação com tudo, deixe estar - isto não tem cura. Se for uma depressão profunda, daquelas que o arrastam para a cama (e não para fazer o que ele tanto gosta), algumas providências são necessárias. Nada de terapias de apoio, porque um escorpião jamais vai acreditar que ele está OK e o mundo está OK. Uma terapia de choque é a mais recomendável: uma passagem só de ida para a Iugoslávia, para trabalhar num campo de refugiados, ou um passeio às seis da tarde por qualquer dos pontos das grandes capitais brasileiras onde se concentram os menores infratores vai ajudar a reconhecer que há outros infernos ainda piores que seu inferno interior. Um pouco menos arriscada é a técnica de auto-análise. Todo escorpião é um investigador nato, e isto explica porque eles dão excelentes psicanalistas.

Em contrapartida, dão péssimos pacientes, já que nunca vão superar completamente a sensação de que aquele camarada sentado na poltrona atrás do divã está calado porque, no fundo, sabe menos do que ele. O escorpião lucra mais se pagar uma faculdade de psicologia em vez de honorários de um psicólogo avulso. É claro que às vezes não se pode esperar cinco anos escolares para resolver uma crise. Mas crises, na verdade, não atrapalham este signo. Ao contrário, ele precisa delas para se reciclar periodicamente. E acaba sempre levantando, sacudindo a poeira e dando a volta por cima.

Textos de Marília Pacheco Fiorillo e Marylou Simonsen, publicados no livro Use e Abuse do seu Signo, editado pela LP&M

Sobre livros


Daí que me deu vontade, já há uns dias, de falar sobre os últimos livros que li. A preguiça me dominou até agora, mas, finalmente, consegui vencê-la. Vamos a eles então.

A princípio, pra quem quiser espairecer com uma leitura descompromissada e linguajar leve, recomendo a série Percy Jackson e os Olimpianos, de Rick Riordan. Nos cinco livros o autor trabalha com a mitologia grega, expondo seus heróis – semi-deuses contemporâneos – às situações mais inusitadas possíveis, com direito a monstros destruindo escolas em perseguição aos protagonistas, viagem ao Hades (o mundo dos mortos grego) e um Olimpo encarapitado no andar de número 600 do Empire State (não, não existe esse andar. Leiam os livros pra entender). Os semi-deuses do autor têm TDA e dislexia, o que fez rolar uma empatia total (eu, um ser totalmente TDA e, se não com dislexia, provavelmente com discalculia)... Mas eu sou uma purista com relação à mitologia grega – dentro do que se pode considerar “purismo” numa mitologia –, e, por conta disso, extremamente desconfiada com livros e filmes que se propõem a tratar do assunto. No que se refere à personificação dos seres mitológicos, não tenho do que reclamar; o autor sabe trabalhar bem com o tema, e tem um conhecimento acerca dos monstros que me surpreendeu. Mas eu, enquanto um ser “da colônia”, percebo algumas posições políticas, algumas expressões estadunidenses do tipo que mais detesto. Por exemplo, o centro da ação, o ápice de tudo, se dá em Nova Iorque, mais especificamente na ilha de Manhattan. Ora, o Olimpo fica em cima do Empire State não por acaso! A explicação pra isso, no livro, é que os deuses gregos se mudam para as civilizações mais avançadas de seu tempo... Aham, Cláudia, senta lá. Eu sinceramente já enchi o saco de filmes como “O dia depois de amanhã” e “Independence Day”, onde os americanos são os grandes heróis da humanidade ou a raça eleita para preservar a vida na Terra – por essas e outras nem me dei ao trabalho de assistir a “2012”. Esse “American Way Life” me incomodou nos livros, mas, ignorando-o, é uma leitura leve e divertida.
Ainda no ritmo da leitura leve, Cidade dos Ossos, de Cassandra Clare, também é uma boa pedida. Primeiro livro de (mais) uma série de fantasia chamada Os Instrumentos Mortais, sua história gira em torno dos nephilins, filhos de anjos e humanos que estão na Terra para manter a ordem, impedindo que seres “das sombras” aprontem das suas. São uma espécie de "caçadores de demônios". É um romance-aventura adolescente, mas tem umas ideias muito boas, as cenas de lutas são bem orquestradas (eu particularmente tenho uma extrema dificuldade pra escrever cenas de batalhas – embora as adore –, e admiro quem consegue passar a tensão do momento através das palavras), e a autora sabe trabalhar o enredo de forma a reservar algumas consideráveis surpresas, especialmente da metade para o fim. Assim como a série dos Olimpianos, uma leitura leve, pra se passar um final de semana descansando, sem precisar exigir muito do cérebro.

Agora, se você gosta de literatura fantástica mas prefere temas mais adultos e profundos, A Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr, é o que há. Escrito por um brasileiro (o que, por um lado eu lamento, já que isso indica que provavelmente jamais virará filme – o que pode ser bom, afinal, vide a merda que fizeram com Eragon –, e por outro me dá um orgulho tremendo, porque há tempos eu não lia algo tão bom de fantasia), lida com uma batalha de anjos, desde antes da queda de Lúcifer (o famoso diabo, pra quem não é ligado em mitologia cristã) até o pós-Armageddon, a batalha final entre o bem e o mal. O autor faz uma viagem histórica a diversas culturas, ressuscita desde a Babilônia da antiguidade, passa pelo Império Romano, China e Inglaterra medieval e por aí segue numa estrutura não linear, dando um leve toque de romance sem cair no pieguismo – ouso dizer que a personagem principal feminina é uma das melhores da literatura brasileira desde Capitu (e isso, vindo de mim, que idolatro Machado de Assis, é coisa pra caramba). A força, inteligência e personalidade dela são fascinantes. O autor consegue também deixar muito clara a extrema diferença entre as naturezas humana e angelical, mas, pra quem – como eu – tem uma ligação muito estreita com princípios cristãos, vai achar umas ideias levantadas por ele meio estranhas (pra dizer o mínimo). Aí é só relaxar e lembrar que é uma ficção e curtir o livro muitíssimo bem escrito e com um trabalho de pesquisa primoroso. Sem dúvida, um dos melhores livros que já li nos últimos anos. Mesmo pra quem não é muito fã de literatura fantástica, eu recomendo a leitura – depois me contem se gostaram ou não. ;)

Mulherada, Fora de Mim, de Martha Medeiros é algo assim tipo... De pensar “sou eu”. Martha Medeiros, como a maioria deve concordar, é uma cronista fabulosa, e nesse mais recente livro trata de uma dor que a grande maioria de nós conhece: a dor do fim, da separação, do relacionamento que não dá mais certo, mesmo a paixão ainda existindo em todo seu fulgor. O desespero, a luta diária que muitas vezes se aproxima daquela enfrentada por um drogado tentando se livrar de um vício (“um dia de cada vez”), a confusão de sentidos, a surpresa com o desenrolar dos fatos, as coisas estranhas que fazemos sem entender muito bem porque... Está tudo lá. E, homarada, recomendo a leitura. Acreditem, não é drama o que as mulheres fazem (ok, algumas EFETIVAMENTE fazem, mas isso não é regra). A natureza passional da maioria de nós, mesmo quando disfarçada por trás de uma imagem de frio desdém, é um turbilhão atormentador. Leiam. Vocês talvez entendam muitas atitudes que nós, mulheres, tomamos – afinal, elas agora são narradas, quase como num diário, por uma mulher.

E, livrinho que estou finalizando, só pra não deixar de mencionar minha atual paixão viciante (vide este post), Amantes e Rainhas – O Poder das Mulheres, de Benedetta Craveri. Mas, ok, antes de torcerem o nariz com “lá vem ela de novo falar de Luis XIV”, a coisa é mais ampla. O livro, na verdade, trata da influência de algumas mulheres que, à despeito do afastamento misógino destinado a elas no Antigo Regime francês, tiveram o poder de influenciar os rumos não só da França como, de certa forma, da Europa inteira. Estou me referindo a nomes como Catarina de Médicis, Margarida de Avois (a Rainha Margot), Ana da Áustria, Athénaïs de Montespan, Marquesa de Pompadour e Maria Antonieta, entre outras. É claro que, a princípio, meu interesse no livro recaiu sobre as mulheres que cercaram a vida do meu querido Rei Sol – Ana da Áustria, Maria Mancini, Maria Teresa da Áustria, Louise de La Vallière, Athénaïs de Montespan e Madame de Maintenon – e que, dada a longevidade do reinado de Luis XIV (72 anos, o mais longo do Antigo Regime europeu) e sua empolgação com o “sexo amável” (pra usar um termo da autora), obviamente ocupa uma boa parte do livro. Mas entender como as coisas se desenrolaram antes e depois dele, toda a configuração política, os homens e mulheres que, com suas atitudes, influenciaram uma época, está sendo deveras esclarecedor. Mais ainda, apesar de todo o preconceito com relação às mulheres que existiu durante todo esse período, constatar que mulheres inteligentes e fortes foram capazes de traçar seus próprios destinos – mesmo que algumas vezes tenha resultado em desastre depois. Isso meio que me esclarece porque o movimento feminista foi – e ainda é – tão forte na França. Eu sou suspeita, mas... Conheça o passado pra entender melhor o presente. ;)

Bom, é isso. Assim que terminar esse, vou tentar começar a ler Caim, de Saramago. Vejamos o que ele me reserva. :)

* Lendo tudo que eu posso enquanto posso... Depois que as aulas começarem, aí serão dois anos só lendo e escrevendo sobre judeus, fariseus, paleocristãos, Paulo...

De escritas e sentimentos – uma breve pausa


Acho que não posso me considerar uma escritora, na total acepção da palavra. Sei que escrevo. Faço isso com regularidade há alguns anos. Gosto e preciso da escrita, sempre foi minha válvula de escape. Se o que escrevo tem ou não qualidade pra que eu seja considerada uma “escritora” são outros quinhentos – e não vem ao caso, de todo modo.

Comecei este texto assim porque, quem me conhece há alguns anos, sabe que, se comparado aos meus outros blogs (inúmeros espalhados por aí) este tem sido surpreendentemente impessoal (já fui criticada por uma amiga por conta disso, inclusive; outra, por sua vez, acha melhor assim. Eu sigo conforme minhas necessidades do momento). Aliás, se é que eu consigo encontrar alguma característica nos meus textos é essa: pessoalidade. Em geral sou bastante intimista no que escrevo. Já escrevi de crônica a poesia (de versos brancos a sonetos), de crítica a romance, de textos transbordantes de sarcasmo e ironia até declarações de amor rasgadas. Tem tudo disso por aí, perdido na rede (e alguns guardados no micro, porque apaguei da WWW por nenhuma razão fixa, ou talvez por várias razões – simplesmente assim o quis). Já falei de política, religião, literatura, filmes, amor, paixão, saudade, elfos, História, dança e mais um milhão de outras coisas. Gosto de entremear meus textos com parênteses e hífens – eu preciso sempre explicar tudo muito bem explicado. É quase TOC.

Mas o fato é que, do meu último blog – o primeiro que efetivamente apaguei – pra este, uma mudança bastante considerável se deu, não só na escrita. Minha vida, meu pensamento, muitas coisas mudaram. E hoje, não sei exatamente porque, me deu vontade de escrever sobre isso. Sobre escrita. Sobre o que escrever significa pra mim, e porque escrevo. E porque parei de escrever sobre umas coisas pra escrever sobre outras.

Perdi as contas de quantas vezes mais de uma pessoa me perguntou “por que você escreve?” pelas mais variadas razões. A maioria que me perguntou isso achava que eu me expunha demais – não posso deixar de concordar. De certa forma era uma exposição, e eu nunca soube explicar direito o porquê disso. Uma espécie de voyeurismo invertido, talvez? Não sei. Mas eu sempre precisei expulsar coisas de dentro de mim escrevendo, e em geral elas vinham parar na internet. Poderia guardar num arquivo no micro; sim, poderia. Algumas coisas estão guardadas assim, inclusive. Mas há uma espécie de narcisismo em ser lida que só quem escreve pode realmente entender. Não tenho a intenção, nunca tive, de ser uma “blogueira conhecida”, ou algo do tipo. Basta alguns poucos leitores, mesmo pessoas que não sabem absolutamente nada de mim e chegaram aqui por acaso, numa busca qualquer na internet (alguns dos melhores blogs que já descobri e que sigo até hoje eu encontrei assim). Tanto que meus outros blogs não figuravam nos meus perfis em redes sociais, não eram tão fáceis de encontrar. Mas eles estavam lá, disponíveis a buscas fortuitas – e às vezes a buscas nem tão fortuitas assim, e em geral eu sabia exatamente diferenciar umas das outras. Não sei como acontece com os outros, mas palavras que são escritas e não são lidas, pra mim, soam como se nunca tivessem saído do pensamento. E isso é incômodo, porque eu escrevo justamente pra me “livrar” delas – é quase uma “penseira”, pra quem conhece o mundo de Harry Potter. Por outro lado, às vezes eu perco horas e horas relendo o que escrevi, seja recentemente, seja há alguns anos. É alguma espécie de auto-análise, sei lá.

Mas eu sou uma pessoa essencialmente apaixonada. Não lembro exatamente qual foi a última vez em que fiquei mais de um mês sem estar apaixonada por alguém. E, obviamente, meus blogs retratavam isso. Raivas, incompreensões, explosões passionais, saudades, enlevo – de tudo um pouco, registrado em palavras por aí. Menos de algum tempo pra cá.

Quando resolvi criar este blog, eu queria me desvencilhar disso. Queria trocar a intimidade pela análise da superfície (logo eu, que não suporto superficialidades!). Queria trocar a escrita de sentimentos por uma escrita quase “acadêmica”. E a passagem de um modo a outro foi tão radical que eu quase comecei a escrever aqui obedecendo às normas da ABNT. Mentira, não chegou a tanto. Mas a ideia era mais ou menos essa. Não que eu não estivesse apaixonada quando resolvi isso; talvez tenha sido exatamente o oposto. A questão talvez fosse estar experimentando um sentimento tal que já não cabia mais nas palavras. Coubera antes. E como. Escrevi praticamente um livro, muitos e muitos poemas e prosas, alguns textos que eu considero os melhores da minha vida (e, pelo meu grau desumano de exigência, são bem poucos) foram dedicados pra essa pessoa. É, deu um livro, eu tenho a coisa diagramada como tal. Mas chegou um momento de ruptura. Não o fim de um romance, não uma despedida, não uma traição, não o fim de um amor, nenhuma dessas situações folhetinescas (pelas quais já passei ao longo da vida). Simplesmente... Um momento de mudança. Ou talvez de entendimento. O que, no final das contas, não é necessariamente auto-excludente, pelo contrário. Eu diria que são complementares.

Ainda não sei exatamente qual a relação disso com o que eu escrevia antes. Ou como escrevia. Quando aconteceu, eu tinha algo em mente; hoje, vejo que vai bem mais além. Chamo de “ruptura” porque eu sinto assim. Durante algum tempo eu mantive dois blogs, um mais antigo e "pessoal", e este; há poucos meses essa ruptura se fez total, quando apaguei o blog anterior. Deletei totalmente, tirei da rede, disponibilizei o endereço. Me desfiz por completo – no mundo virtual, porque o backup dele está aqui guardado. Queria começar algo novo, precisava urgentemente mudar, precisava me desfazer de algo. Acho que, simbolicamente, queria me desfazer do sentimento de posse a que todos hoje em dia chamam de amor.

Eu tenho muito cuidado com essa palavra, esse verbo, o tal do amor. Raríssimas vezes meus amigos mais próximos me ouviram – ou leram – uma declaração assim vinda de mim. É um troço muito sério. E vai ficando mais sério com o passar do tempo, porque a maturidade vai me fazendo entender o que é de fato e o que eu um dia achei que fosse. É algo muito perigoso e pode machucar. Já confundi uma profunda amizade com amor romântico, amor homem-mulher, e o resultado foi que perdi ambos, o amigo e o namorado. Já disse a famosa frase “eu te amo”, no sentido romântico mesmo, basicamente pra quatro pessoas. Dessas, hoje vejo que só amei de verdade duas. E, mesmo essas duas, foram de formas tão distintas que eu chamaria os sentimentos de nomes diferentes, se meu vocabulário assim permitisse.

Posse. Talvez isso diferencie essas duas instâncias. É óbvio que quando você ama alguém quer ter a pessoa por perto. Quer tê-la ao seu lado. Mas isso é diferente de posse. Hoje eu entendo, quando vejo a primeira pessoa a quem eu realmente amei, que o que sentia na época era mais posse do que amor propriamente dito - eu era uma adolescente. Entendo isso hoje porque consigo ficar feliz por ele, por saber que conseguiu coisas que tanto almejava, como família, filho. Sinto saudades – não como homem, mas como um amigo muito querido, muito amado. Não, isso não é confundir amizade com amor; isso é o que sobra do amor, depois que o fogo da paixão se extingue, e você perde o sentimento de posse: amizade. É um querer-bem diferente, que nada tem de “erótico”, de físico, de passional.

Mas eu tenho aprendido um outro tipo de amor, o amor sem posse. Wow, não é nada fácil, viu. Até porque o raio da paixão não existe sem o sentimento de posse, e controlar isso é algo muito complicado. Mas não há nada melhor pra arrefecer uma paixão do que tempo e distância. Certo? Não necessariamente. Creiam-me, não necessariamente MESMO. Quando há alguma coisa maior por trás, a paixão pode até arrefecer, diminuir até virar uma brasinha tão pequena que você jura que já tá extinta, nem a sente lá. Mas experimenta diminuir a distância, tenta driblar o tempo. Nero ficaria com inveja, porque o incêndio de Roma perde. Ou seja, a questão não é a paixão. Aliás, é ela que imprime o sentimento de posse a que as pessoas erroneamente chamam de amor. Eu tenho entendido que eu posso amar alguém mesmo sem ter esse alguém comigo (não que eu não QUEIRA tê-lo, querer eu quero, mas nem tudo é como a gente quer; o lance é que eu não PRECISO tê-lo pra continuar amando-o). Mesmo se passar anos sem vê-lo. Mesmo que eu siga uma vida muito diferente da dele, diametralmente oposta, com outra pessoa, uma outra história. É pensar que, caso a vida nos jogue cada um num lado diferente do mundo, o dia que nos reencontrarmos tenho certeza de que vou pensar (e dizer): “Eu sei que teríamos sido felizes juntos. Mas, mesmo assim, ver você me faz feliz”.

Tendo entendido isso – embora muitas vezes a paixão ainda turve o entendimento e eu esqueça tudo por algum tempo –, acho que se deu a mudança. Uma mudança de dentro pra fora. Eu não preciso mais extrair os excessos desse sentimento, pra não ser sufocada por ele, como fazia antes. Agora já lido melhor com o silêncio. As palavras antes não davam conta; agora elas já quase não se fazem mais necessárias. Não escritas, pelo menos. Meu momento é de silêncio, porque ainda acontecem embates sérios e ferocíssimos dentro de mim pra aceitar essa ideia de amor sem posse. Preciso absorver tudo isso, porque não é algo fácil – talvez sequer compreensível pra alguém além de mim.

Por isso, voltamos à nossa programação normal.