Sobre livros


Daí que me deu vontade, já há uns dias, de falar sobre os últimos livros que li. A preguiça me dominou até agora, mas, finalmente, consegui vencê-la. Vamos a eles então.

A princípio, pra quem quiser espairecer com uma leitura descompromissada e linguajar leve, recomendo a série Percy Jackson e os Olimpianos, de Rick Riordan. Nos cinco livros o autor trabalha com a mitologia grega, expondo seus heróis – semi-deuses contemporâneos – às situações mais inusitadas possíveis, com direito a monstros destruindo escolas em perseguição aos protagonistas, viagem ao Hades (o mundo dos mortos grego) e um Olimpo encarapitado no andar de número 600 do Empire State (não, não existe esse andar. Leiam os livros pra entender). Os semi-deuses do autor têm TDA e dislexia, o que fez rolar uma empatia total (eu, um ser totalmente TDA e, se não com dislexia, provavelmente com discalculia)... Mas eu sou uma purista com relação à mitologia grega – dentro do que se pode considerar “purismo” numa mitologia –, e, por conta disso, extremamente desconfiada com livros e filmes que se propõem a tratar do assunto. No que se refere à personificação dos seres mitológicos, não tenho do que reclamar; o autor sabe trabalhar bem com o tema, e tem um conhecimento acerca dos monstros que me surpreendeu. Mas eu, enquanto um ser “da colônia”, percebo algumas posições políticas, algumas expressões estadunidenses do tipo que mais detesto. Por exemplo, o centro da ação, o ápice de tudo, se dá em Nova Iorque, mais especificamente na ilha de Manhattan. Ora, o Olimpo fica em cima do Empire State não por acaso! A explicação pra isso, no livro, é que os deuses gregos se mudam para as civilizações mais avançadas de seu tempo... Aham, Cláudia, senta lá. Eu sinceramente já enchi o saco de filmes como “O dia depois de amanhã” e “Independence Day”, onde os americanos são os grandes heróis da humanidade ou a raça eleita para preservar a vida na Terra – por essas e outras nem me dei ao trabalho de assistir a “2012”. Esse “American Way Life” me incomodou nos livros, mas, ignorando-o, é uma leitura leve e divertida.
Ainda no ritmo da leitura leve, Cidade dos Ossos, de Cassandra Clare, também é uma boa pedida. Primeiro livro de (mais) uma série de fantasia chamada Os Instrumentos Mortais, sua história gira em torno dos nephilins, filhos de anjos e humanos que estão na Terra para manter a ordem, impedindo que seres “das sombras” aprontem das suas. São uma espécie de "caçadores de demônios". É um romance-aventura adolescente, mas tem umas ideias muito boas, as cenas de lutas são bem orquestradas (eu particularmente tenho uma extrema dificuldade pra escrever cenas de batalhas – embora as adore –, e admiro quem consegue passar a tensão do momento através das palavras), e a autora sabe trabalhar o enredo de forma a reservar algumas consideráveis surpresas, especialmente da metade para o fim. Assim como a série dos Olimpianos, uma leitura leve, pra se passar um final de semana descansando, sem precisar exigir muito do cérebro.

Agora, se você gosta de literatura fantástica mas prefere temas mais adultos e profundos, A Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr, é o que há. Escrito por um brasileiro (o que, por um lado eu lamento, já que isso indica que provavelmente jamais virará filme – o que pode ser bom, afinal, vide a merda que fizeram com Eragon –, e por outro me dá um orgulho tremendo, porque há tempos eu não lia algo tão bom de fantasia), lida com uma batalha de anjos, desde antes da queda de Lúcifer (o famoso diabo, pra quem não é ligado em mitologia cristã) até o pós-Armageddon, a batalha final entre o bem e o mal. O autor faz uma viagem histórica a diversas culturas, ressuscita desde a Babilônia da antiguidade, passa pelo Império Romano, China e Inglaterra medieval e por aí segue numa estrutura não linear, dando um leve toque de romance sem cair no pieguismo – ouso dizer que a personagem principal feminina é uma das melhores da literatura brasileira desde Capitu (e isso, vindo de mim, que idolatro Machado de Assis, é coisa pra caramba). A força, inteligência e personalidade dela são fascinantes. O autor consegue também deixar muito clara a extrema diferença entre as naturezas humana e angelical, mas, pra quem – como eu – tem uma ligação muito estreita com princípios cristãos, vai achar umas ideias levantadas por ele meio estranhas (pra dizer o mínimo). Aí é só relaxar e lembrar que é uma ficção e curtir o livro muitíssimo bem escrito e com um trabalho de pesquisa primoroso. Sem dúvida, um dos melhores livros que já li nos últimos anos. Mesmo pra quem não é muito fã de literatura fantástica, eu recomendo a leitura – depois me contem se gostaram ou não. ;)

Mulherada, Fora de Mim, de Martha Medeiros é algo assim tipo... De pensar “sou eu”. Martha Medeiros, como a maioria deve concordar, é uma cronista fabulosa, e nesse mais recente livro trata de uma dor que a grande maioria de nós conhece: a dor do fim, da separação, do relacionamento que não dá mais certo, mesmo a paixão ainda existindo em todo seu fulgor. O desespero, a luta diária que muitas vezes se aproxima daquela enfrentada por um drogado tentando se livrar de um vício (“um dia de cada vez”), a confusão de sentidos, a surpresa com o desenrolar dos fatos, as coisas estranhas que fazemos sem entender muito bem porque... Está tudo lá. E, homarada, recomendo a leitura. Acreditem, não é drama o que as mulheres fazem (ok, algumas EFETIVAMENTE fazem, mas isso não é regra). A natureza passional da maioria de nós, mesmo quando disfarçada por trás de uma imagem de frio desdém, é um turbilhão atormentador. Leiam. Vocês talvez entendam muitas atitudes que nós, mulheres, tomamos – afinal, elas agora são narradas, quase como num diário, por uma mulher.

E, livrinho que estou finalizando, só pra não deixar de mencionar minha atual paixão viciante (vide este post), Amantes e Rainhas – O Poder das Mulheres, de Benedetta Craveri. Mas, ok, antes de torcerem o nariz com “lá vem ela de novo falar de Luis XIV”, a coisa é mais ampla. O livro, na verdade, trata da influência de algumas mulheres que, à despeito do afastamento misógino destinado a elas no Antigo Regime francês, tiveram o poder de influenciar os rumos não só da França como, de certa forma, da Europa inteira. Estou me referindo a nomes como Catarina de Médicis, Margarida de Avois (a Rainha Margot), Ana da Áustria, Athénaïs de Montespan, Marquesa de Pompadour e Maria Antonieta, entre outras. É claro que, a princípio, meu interesse no livro recaiu sobre as mulheres que cercaram a vida do meu querido Rei Sol – Ana da Áustria, Maria Mancini, Maria Teresa da Áustria, Louise de La Vallière, Athénaïs de Montespan e Madame de Maintenon – e que, dada a longevidade do reinado de Luis XIV (72 anos, o mais longo do Antigo Regime europeu) e sua empolgação com o “sexo amável” (pra usar um termo da autora), obviamente ocupa uma boa parte do livro. Mas entender como as coisas se desenrolaram antes e depois dele, toda a configuração política, os homens e mulheres que, com suas atitudes, influenciaram uma época, está sendo deveras esclarecedor. Mais ainda, apesar de todo o preconceito com relação às mulheres que existiu durante todo esse período, constatar que mulheres inteligentes e fortes foram capazes de traçar seus próprios destinos – mesmo que algumas vezes tenha resultado em desastre depois. Isso meio que me esclarece porque o movimento feminista foi – e ainda é – tão forte na França. Eu sou suspeita, mas... Conheça o passado pra entender melhor o presente. ;)

Bom, é isso. Assim que terminar esse, vou tentar começar a ler Caim, de Saramago. Vejamos o que ele me reserva. :)

* Lendo tudo que eu posso enquanto posso... Depois que as aulas começarem, aí serão dois anos só lendo e escrevendo sobre judeus, fariseus, paleocristãos, Paulo...

0 Response to "Sobre livros"

Postar um comentário