Pequeno surto entre-músicas

Eu preciso de uma noite inteira dançando, a dança como catarse pra esquecer o que eu não consigo mais fingir que não está dentro de mim. Eu preciso de uma pista cheia de gente bêbada, com luzes piscantes e música ensurdecedora, pra me fazer esquecer do seu rosto, um rosto que povoa minha memória, meus pensamentos, a cada respiração eu penso em você, em como eu gostaria que você estivesse aqui, dançando comigo, rindo, celebrando comigo. Minha alegria não é completa sem você, não é mais do que uma mera sombra do que já senti um dia. Sonhei com você esta noite, e você estava tão triste e chorava no meu colo, e eu tenho vontade de chorar só de me lembrar disso. Como você está agora? Não sei, não faço a menor ideia. Não sei se está bem, não sei se está feliz ou triste, ou preocupado, ou sequer se ainda pensa em mim. Eu tento, juro que tento esquecer você, com tanta força como jamais tentei fazer qualquer coisa na vida. Entrego-me à catarse, danço de olhos fechados e atraio olhares, surpreendendo até quem me conhece há muito tempo, tal é minha entrega à dança. Preciso fugir de mim e do tanto de você que ainda existe em mim – eu não consigo separar quem sou eu e quem é você dentro de mim. Sim, eu bebi. Não o suficiente pra perder o ferrenho controle que mantenho sobre mim mesma – só você consegue fazer isso, pode contabilizar na sua lista de conquistas mais esta –, mas só o suficiente pra conseguir ficar um pouco alegre, o que tem sido difícil ultimamente. O suficiente pra tentar vencer a dor ainda que momentaneamente, a saudade que a cada dia me corrói, como se fosse um câncer, devorando cada célula do meu corpo. Danço, danço além do que minha combalida resistência física e respiratória permitem, dancei até ficar sem ar, até passar mal por não conseguir mais respirar. Dancei pra tentar te esquecer – mas cada letra de música canta teu nome, cada vez que fecho os olhos é teu rosto que enxergo. Luto contra mim mesma, luto pra esquecer tudo, luto pra tirar o que ainda há de você dentro de mim, mas é como me matar lentamente. Enfeito-me, seduzo, sorrio, mas tudo me parece vazio. Procuro seu rosto em todos os outros rostos. Sinto as lágrimas assomarem aos olhos com muito mais frequência do que gostaria, e mesmo agora, quando fugi por um momento da minha pseudo-alegria , sinto vontade de chorar por pensar o quanto estaria mais genuinamente feliz com você aqui comigo.

Vou voltar a dançar. Preciso esquecer de mim e de você, porque, dentro de mim, por mais que eu tente negar e esquecer, nós somos um só, e você está aqui comigo. Ainda que sua presença esteja apenas na ausência, ainda que eu tente negar e esquecer, você está sempre comigo.

8 Response to "Pequeno surto entre-músicas"

  1. Anônimo Says:
    15 de maio de 2011 às 00:15

    Falo nada, mas tipo assim pára de fazer força para esquecer, viva a sua vida normalmente como sempre viveu sem ele.
    Bjs

  2. Anônimo Says:
    15 de maio de 2011 às 00:17

    Me lembrei de uma música:

    Nós não vamos ficar juntos
    toda vida
    como estamos agora
    nessa presença vivida
    quando a festa acabar
    vamos nos separar
    uns pros outros teremos morrido
    mas vamos fazer ficar este instante
    prometido?

    Pense nisso faça os instantes valerem a pena e não se aprisione nele. VIVA!

  3. Zé do Maracujá says:
    17 de maio de 2011 às 10:58

    O comentário do Anônimo é tudo Fabiana... tentar esquecer significa pensar em quem não se quer pensar. Aí não esquece mesmo. O negócio é olhar para as coisas que você quer e focar nelas. O resto vai se diluindo.

    http://zedomaracuja.blogspot.com/

  4. Fabiana Amaral says:
    17 de maio de 2011 às 21:32

    Eloá (eu sei que é você - rá), se as coisas fossem tão simples assim você poderia ficar rica vendendo a fórmula da felicidade. EU já tinha posto um ponto final nessa história. EU já tinha decidido que acabou, com uma certeza que, das poucas vezes que tive, nunca antes tinha voltado atrás. Mas não é fácil lutar contra algo que é maior que você.

    Zé, eu tenho vivido focada num nível mega-ultra-master em trocentas coisas diferentes, todas super importantes, e é assim que tenho sobrevivido. Quando começo a listar as coisas que tenho feito, a galera me chama de maluca. Mas essa tem sido minha válvula de escape. Só que o corpo tá começando a dar sinais de cansaço, aí quando o corpo já não responde de modo tão efetivo acaba abrindo espaço pra mente, e aí fu...

  5. Anônimo Says:
    18 de maio de 2011 às 01:40

    Oi Fabiana... Espero que você esteja bem :)

    Seu post me remeteu a um passado não muito remoto... Algumas coisas, ou pessoas, enfim, é realmente duro esquecer, por mais que a gente tente, não dá certo... Eu também perdi uma pessoa muito especial, e isso me levou pro fundo do poço.

    Não vou te dar conselhos do tipo: pára com isso, esquece, deixa pra lá, bora tocar a vida, pois só quem vive isso é que sabe como é hard aguentar, mas vou dizer o seguinte: dói muito - insuportavelmente - durante um tempo... mas vai chegar uma hora que essa dor, ou essa ausência, ficará mais leve...

    Bom, sou péssimo com palavras, mas se algum dia precisar conversar, estou aqui :)

    Quando tiver um tempo, leia o texto se puder: http://mmsblue.blogspot.com/2010/02/vai-passar.html

    Fique bem Fabiana :)

    Maurício

  6. Fabiana Amaral says:
    18 de maio de 2011 às 15:37

    Oi, Mauzul! (ou azulrício? :D)

    Que bom que alguém que já passou por algo semelhante entende. Estou um pouco farta das pessoas me dizendo pra "parar com isso", "deixar pra lá" e blá, blá, blá, como se fosse uma simples decisão sobre qual sapato colocar para ir a uma festa. Não se tira alguém do coração com tanta facilidade - aliás, a coisa fica tanto mais difícil quanto mais fundo você colocou a pessoa lá. Já passei por maus bocados antes, por isso sei que vou sobreviver, e sei que um dia, de um jeito ou de outro, vai passar. Como diz o ótimo texto que você linkou aí,

    "[...] simplesmente 'continuo', porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como 'sempre' ou 'nunca'. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como 'não resistirei' por outras mais mansas, como 'sei que vai passar'."

    E aí eu paro de tocar no assunto e mergulho em todos os milhões de compromissos que inventei pra mim - e que, em sua maioria, realmente consistem em coisas que gosto muito, mas me desgastam - e as pessoas ao redor acham que está tudo bem e que eu superei. Mas nada é tão simples assim, aí em alguns momentos eu simplesmente finjo que nada tá acontecendo porque já estou de saco cheio de ouvir as mesmas coisas óbvias que, se eu pudesse, já teria feito há tempos. Maaaaas, como eu disse num outro comentário, quando o corpo começa a não reagir como você quer, a mente se liberta e começa a te torturar. Eu ando meio adoentada, com isso, mais fragilizada. A merda é essa.

    Mas enfim, eu dancei muito na festa - a ponto de ferrar a garganta, dizem, de tanto prender o choro -, e já estou me programando pra ir em outros lugares, conhecer outras pessoas. Um dia vai passar. Em algum momento, algum dia, de algum jeito, tudo passa. Na pior das hipóteses, nós mesmos passaremos. ;)

    Beijão, e valeu! ;)

  7. Anônimo Says:
    18 de maio de 2011 às 20:11

    Oi Fabiana :)

    Que bom que gostou do texto.

    Sabe, até hoje as pessoas me dizem pra esquecer, deixar passar, tentar ser feliz, bla bla bla... Eu perdi minha esposa e bebê, tem 4 anos, e fico pensando: o que eu fiz pra que isso acontecesse? Onde eu errei? Pq justo comigo? Eu vejo tantos pais de família por aí fazendo merdas, tantos homens traindo a esposa, tantos pais recusando o filho... E eu me pergunto: pq justo comigo?

    Aí, pra fugir de tudo isso, faço algo parecido com o que você faz: ao invés de dançar, compro um livro bem ferrado de física, ou matemática, e vou resolver todas as equações, rs... Acho que eu poderia mudar de profissão, pois já descobri mais erros em equações publicadas nesses últimos anos do que produzi algo realmente valioso no trabalho, rs... É uma fuga necessária...

    Penso sempre sobre o "passaremos"...

    Bom, chega, não quero te deixar + down, rs... Mas sei que você vai me entender...

    Um beijo! Gostei dos novos apelidos :)

  8. Fabiana Amaral says:
    18 de maio de 2011 às 21:05

    Ô se entendo. É barra. Tem horas que a gente para e pensa "mas que p*** é essa?! Tem alguém de sacanagem com a minha cara?!"... Você olha pro lado e pros outros parece tão fácil, as coisas que você mais quer, mais sonha, praticamente são "dadas" e tantos não dão a mínima... E a gente lá, batendo cabeça, ralando feito condenados, se ferrando... Enfim. Acho que não tem muita explicação. Isso de que cada um tem a carga que aguenta não me consola muito, então tento não pensar no assunto. Deve ter algum motivo, quem sabe um dia a gente descubra.

    Deus, matemática e física?! Eu nunca consegui terminar nem as equações na escola... Eu sou absolutamente ignorante com números! Maaaaas... Cada um tem suas fugas! ;D

    E o "passaremos"... Bom, é a única certeza que temos na vida, né?

    Beijão!

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